O filo Echinodermata é constituído por cerca de 7.000 espécies distribuídas em seis classes: Crinoidea, Asteroidea, Ophiuroidea, Echinoidea, Holothuroidea e Concentricycloidea. O nome do grupo é derivado de duas palavras gregas: echinos = ouriço, e derma = pele, e se refere às projeções em forma de espinhos ou tubérculos presentes na superfície do corpo.
Trata-se de um grupo muito antigo, filogeneticamente relacionado aos Chordata. Há indícios de um longo histórico pré-cambriano, pois parecem ter sido comuns em alguns habitats já no início do Cambriano, há cerca de 600 milhões de anos. É deste período que datam os primeiros registros fósseis do filo.
Todos os representantes do filo são de vida livre, sendo raras as espécies comensais.
Em geral, os sexos são separados, sem dimorfismo sexual externo, com exceção dos Concentricycloidea, que apresentam, inclusive, órgão copulatório. Algumas espécies passam por um estágio larval planctônico, enquanto outras são vivíparas. Apesar de raro entre os Echinodermata, o hermafroditismo tem sido relatado em algumas espécies.
O alto poder de regeneração dos integrantes deste filo confere a algumas espécies a capacidade de se reproduzir assexuadamente por fissão, um processo de divisão do corpo que resulta em novos indivíduos completos e funcionais.
Embora a grande maioria das espécies seja marinha, algumas toleram a água salobra. Podem ser encontrados em todos os oceanos, latitudes e profundidades, da zona entremarés às regiões abissais, sendo mais abundantes na região tropical do que nas águas polares.
São predominantemente bentônicos, ocupando diversos tipos de substrato. Umas poucas espécies são pelágicas. Tendem a apresentar distribuição agregada, sendo encontradas em altas densidades. Em locais onde as condições são favoráveis, o substrato pode ficar totalmente coberto por ouriços-do-mar, ofiuróides ou estrelas-do-mar. Constituem o grupo mais abundante de animais dos fundos marinhos, chegando a compor 90% da biomassa total nas regiões abissais.
Muitos são adaptados para se fixar a substratos rochosos, enquanto outros vivem em substratos lodosos, arenosos, em madeira submersa ou em epibiose (associação entre dois organismos, o hospedeiro e o epibionte. Este tipo de associação é muito comum no ambiente marinho de fundo não consolidado onde a disponibilidade de espaço para o estabelecimento de invertebrados sésseis é limitada, levando muitos destes invertebrados a se estabelecerem em um substrato animado, ou seja, o hospedeiro, onde crescem e se reproduzem. Esta interação hospedeiro/epibionte pode ser tanto uma participação facultativa, ou uma íntima relação de parasitismo, comensalismo e mutualismo entre as espécies, ou até mesmo uma relação de predação de uma das espécies. Essa associação pode não afetar as espécies envolvidas, entretanto o hospedeiro e o epibionte podem ter benefícios ou sofrer desvantagens com essa associação).
A estrutura corporal dos equinodermas baseia-se na existência do sistema ambulacrário. Tomando como exemplo a estrela-do-mar, a face do corpo voltada para o solo ou outro substrato é a face oral; a oposta é a face aboral, onde está o ânus e a placa madrepórica. Essa placa é perfurada e permite a entrada de água do mar, que preenche todo o sistema. Pelo canal madrepórico, a água alcança o canal circular, onde existem dilatações chamadas vesículas de Poli. Dessas vesículas, saem cinco canais radiais, que se dirigem para os braços. Ao longo desses canais radiais, há centenas de pequenas bolsas, chamadas ampolas, de onde partem os pés ambulacrários.
As contrações da ampola forçam a água para dentro do pé ambulacrário, que então se distende e projeta-se para fora do corpo através de pequenos orifícios do esqueleto. Quando a ampola relaxa, o pé correspondente contrai e expulsa a água do seu interior, retraindo-se.
A contração e a retração contínuas e coordenadas dos pés ambulacrários permitem que a estrela-do-mar se locomova e use os pés com pequenas ventosas, podendo capturar alimentos, fixar-se a um substrato, abrir conchas de moluscos, etc.
O sistema digestivo é completo. Os ouriços-do-mar possuem, na boca, uma estrutura raspadora chamada lanterna-de-Aristóteles. As estrelas-do-mar são capazes de everter o seu estômato, introduzindo-o no interior de conchas de moluscos, digerido-os ainda vivos.
O sistema circulatório é ausente ou é rudimentar, e a distribuição de materiais faz-se através da cavidade celomática. A excreção é feita diretamente através da água que ocupa o sistema ambulacrário, não havendo nenhuma outra estrutura excretora especializada.
Já o sistema nervoso, é formado por nervo anelar ao redor da faringe e nervos radiais, é rudimentar e não apresenta cefalização. Há células táteis e olfativas em toda a superfície do corpo. As estrelas-do-mar possuem células fotorreceptoras nas extremidades dos braços.
A respiração se dá por difusão, entre a água do mar e a que ocupa o sistema ambulacrário. Nos pepinos-do-mar, há uma série de filamentos ao redor da boca, pelos quais passa o líquido celomático, que funcionam como brânquias. Não há pigmentos transportadores de oxigênio. Os ouriços-do-mar possuem brânquias dérmicas, análogas às brânquias periorais dos pepinos-do-mar e também ocupadas por líquido celomático. Entre as brânquias dérmicas e os numerosos espinhos, os ouriços-do-mar possuem apêndices chamados pedicelárias, dotados de pinças nas extremidades e empregados na limpeza de detritos que se depositam no corpo. Em algumas espécies, essas pedicelárias inoculam veneno.
O esqueleto é interno (endoesqueleto mesodermal), recoberto pela epiderme. O endoesqueleto é constituído por placas calcárias, distribuídas em cinco zonas ambulacrais alternadas com cinco zonas interambulacrais. As zonas ambulacrais possuem numerosos orifícios, por onde se projetam os pés ambulacrais, estruturas relacionadas com a locomoção. Na face dorsal do esqueleto há uma placa central ou disco (onde se abre o ânus), rodeada por cinco placas, cada uma com um orifício genital. Uma dessas placas exibe, além do orifício genital, numerosos poros ligados ao sistema ambulacral: trata-se da placa madrepórica. Assentados sobre as placas estão os espinhos, dotados de mobilidade graças aos músculos presentes em sua base. Entre os espinhos, pequenas estruturas com a extremidade em forma de pinça, as pedicelárias, constituídas por dois ou três artículos, com funções de defesa e limpeza da superfície corporal.
Na reprodução sexuada, os animais são dióicos e de fecundação externa.
A regeneração é muito intensa. Na estrela-do-mar, além de regenerar os braços, se dividida em várias partes, cada parte originará um novo indivíduo e podemos então falar em reprodução assexuada. Os pepinos-do-mar, quando perseguidos, podem eliminar parte de suas vísceras e depois regenerá-las.
O desenvolvimento é indireto, com passagem por estágios larvais, todas de vida livre e nadantes. Por serem móveis, as larvas representam a principal forma de dispersão desses animais, podendo deslocarem-se dos ancestrais e ocuparem locais afastados deles.
O sistema ambulacral é uma exclusividade dos equinodermatas. Este sistema se acha constituído por um conjunto de canais que delimitam espaço celomáticos no interior. Apresentam função de: respiração, locomoção e circulação.
No sistema ambulacrário distinguimos uma abertura parecida com uma peneira denominada placa madrepórica ou madreporito, que fica em contato com o meio exterior, por onde a água pode entrar. Segue-se um canal orientado dorsoventralmente, denominado canal pétreo, que vai se abrir num canal circular ao redor do aparelho digestivo. Desse canal circular saem 5 canais radiais que tomam a direção dos braços do animal terminando nas extremidades do mesmo.
De cada canal radial parte uma sucessão de canais laterais formando nas extremidades os pés ambulacrários, que se apresentam formados por um tubo fechado nas duas extremidades, possuindo internamente uma dilatação, a ampola, e externamente uma formação que funciona como ventosa. Os pés ambulacrários nas estrelas-do-mar servem para prendê-las ao substrato, para locomoção, captura e manuseio de alimentos.
A coordenação dos movimentos dos pés ambulacrais promove o lento deslocamento desses animais sobre os substratos marinhos.
..:: Classe Holothuroidea
Os Holothuroidea são encontrados tanto em praias rasas como em profundidades de até 10.200 m. Apenas algumas espécies da ordem Apodida são habitantes permanentes da meiofauna. A maioria é bentônica, encontrada em fundos não consolidados de areia e argila, mas algumas espécies vivem em substratos constituídos por rochas, seixos, cascalho, ou sobre animais ou vegetais. Algumas espécies de Aspidochirotida são pelágicas.
São conhecidos popularmente como "pepinos-do-mar". Ao contrário dos outros equinodermatas, eles apresentam o corpo cilíndrico e alongado, com tegumento mole abaixo do qual se acham espalhadas placas calcárias microscópicas que funcionam como endoesqueleto. A boca é situada numa das extremidades do corpo e é rodeada por tentáculos ramificados que são modificações dos pés ambulacrários. O ânus situa-se na extremidade oposta.
Na parte posterior do intestino encontramos formações características que são os hidropulmões ou árvore respiratória que se estende para frente da cloaca. Admite-se que exerçam funções respiratórias e excretoras.
Certas espécies de holotúrias, algumas das quais existem no Brasil, quando molestadas, eliminam pela cloaca uma porção de filamentos brancos e viscosos (órgão de Cuvirer) que são segregados por glândulas próximas ao ânus. Esse comportamento representa um meio de defesa.
Nos "pepinos-do-mar" o lado dorsal é representado por duas zonas longitudinais, enquanto que o lado ventral apresenta três zonas longitudinais(pés ambulacrários).
Os adultos alimentam-se de detritos orgânicos ou plâncton que o animal captura em mucos existentes nos tentáculos.
..:: Classe Echinoidea
Reúne espécies apresentando forma hemisférica globosa, representado pelos ouriços-do-mar, e pelas formas discóides achatadas como a bolacha-do-mar. Distribuem-se desde a região entremarés até cerca de 4.800 m de profundidade. Os ouriços regulares vivem especialmente sobre fundos consolidados, mas ocorrem, também, em fundos não consolidados. Já os irregulares são típicos de fundos não consolidados, existindo, inclusive, algumas espécies que vivem enterradas na areia.
Nos ouriços do mar, o corpo é formado externamente por uma grande carapaça dividida em uma parte central, denominada roseta apical, situada no dorso do animal, e a corona que compreende o resto da carapaça.
A roseta apical é formada por numerosas placas organizadas, distinguindo-se uma central onde se abre o ânus do animal, e cinco placas genitais onde se abre o orifício externo de cada gônada. Uma dessas placas é mais desenvolvida constituindo a placa madrepórica que corresponde à abertura externa do sistema ambulacrário.
Por entre as placas genitais, existem 5 pequenas placas intergenitais. De cada placa da roseta apical, parte perfeitamente delimitada que caminhando pela corona, vai terminar na face ventral, junto à boca.
Essas áreas são divididas em dois tipos de zonas: temos 5 zonas ambulacrais, cada partindo de uma placa intergenital; nessas zonas se localizam os chamados pés ambulacrários. De cada placa genital parte uma zona inter-ambulacraia, onde se acham localizados os espinhos do animal.
A boca dos equinóides está situada na superfície ventral e é circundada por dentes de vértices voltados para baixo. Estes dentes são suportados por uma estrutura muscular complexa de cinco lados dentro da carapaça, que é conhecida como "Lanterna de Aristóteles".
Os ouriços vivem em rochas, cavando-as através de um desgaste provocado por um contínuo movimento rotatório dos espinhos. Podem ainda ser encontrados no lado das praias e no fundo do mar, alimentando-se de plantas marinhas, matéria animal morta e matéria orgânica contida na areia.
Os ouriços fornecem o material preferido para experiências embriológicas, pois o desenvolvimento desses animais podem ser facilmente acompanhados desde a forma do ovo até a fase de larva.
..:: Classe Ophiuroidea
Os Ophiuroidea ocorrem desde as regiões rasas, até as regiões abissais. Algumas espécies vivem em regiões estuarinas. Vivem abrigados em fendas de rochas, ou sob elas, sobre algas, ou no interior de estruturas animais, como esponjas e tubos de poliquetos. A maioria das espécies, entretanto, é encontrada em areia, lodo e algas, podendo ocorrer, também, em cascalho biodetrítico e corais.
Animais conhecidos como serpentes-do-mar, apresentam o corpo estrelado, mas diferem dos asteróides, por apresentarem o disco central bem diferenciado dos braços. Estes, em número de 5, são cilíndricos, delgados, simples ou ramificados. Quando vivos, apresentam movimentos serpenteantes, dai o seu nome.
Não possuem pedicelas, e seu sistema digestivo é incompleto, faltando reto e ânus. Os resto de alimentos, depois da absorção e assimilação são eliminados através da própria boca porque o intestino, sempre muito curto e rudimentar, é fechado na extremidade posterior.
São carnívoros, alimentando-se de pequenos animais marinhos como crustáceos, vermes e restos de outros alimentos.
..:: Classe Crinoidea
Os Crinoidea ocorrem do Ártico à Antártica, e em todas as profundidades. As espécies não pedunculadas vivem sobre substrato consolidado, ou são epibiontes de antozoários e algas, por exemplo. Já os pedunculados podem ser encontrados em todos os tipos de substrato.
Nessa classe encontramos animais conhecidos vulgarmente como "lírios-do-mar". Possuem o corpo caliciforme, munido ou não de pedúnculo. As formas pedunculadas, possuem uma haste com a qual se fixam a um suporte qualquer. No topo do pedúnculo encontram-se peças calcárias formando o cálice no interior do qual abrigam-se as partes moles do animal. Das margens do cálice partem os braços com numerosas ramificações laterais, chamadas pínulas que se estendem por todo o comprimento do braço. Boca e ânus estão na superfície superior do disco, o ânus freqüentemente em um cone elevado.
Os crinóides não pedunculados são de movimentação livre isto é, são capazes de nadar. O alimento é constituído principalmente de plâncton, colhidos pelos tentáculos e dirigidos pelos cílios à boca.
Essa classe é considerada a mais primitiva dos Echinodermatas. Embora atualmente existam poucas espécies, fora muito abundante em eras geológicas remotas.
..:: Classe Asteroidea
Os Asteroidea ocorrem em quase todas as latitudes e profundidades, podendo atingir os 9.100 m. Ocupam uma grande variedade de substratos, como rochas, algas, cascalho, sedimento arenoso ou recifes de coral. Ocorrem, também, em ambientes caracterizados por um alto estresse ambiental, como poças de maré, o limite superior da região entremarés e praias e costões sujeitos a um alto hidrodinamismo.
Enquadram-se nessa classe, os animais conhecidos como estrelas-do-mar. Geralmente possuem 5 braços, mas existem algumas espécies com um número maior, porém, sempre múltiplo de cinco.
No dorso, distingue-se uma parte central denominada disco, do qual partem cinco prolongamentos idênticos denominados braços.
Mais ou menos no centro do disco e ainda na superfície dorsal, aparece o ânus, e na sua proximidade distinguimos o madreporito que constitui a abertura externa do sistema ambulacrário.
A superfície do disco e braços é densamente revestida por pequenos espinhos, e irregularmente distribuídos. Apenas na linha mediana dos braços aparecem espinhos dispostos em fileiras longitudinais.
Entre os espinhos encontram-se as pápulas (com função de respiração e excreção) e as pedicelas que são formações constituídas por duas lâminas que se dispõem como pinças móveis, mantendo a superfície do corpo livre de detritos e auxiliando na captura de pequenos organismos.
Na extremidade de cada braço, encontra-se um tentáculo com função sensitiva.
Na face ventral, abre-se a boca colocada no centro do disco, de onde partem 5 sulcos denominados canais ambulacrários que tomam a mesma direção dos braços. Lateralmente a estes canais, ocorrem numerosos pés ambulacrários.
A fecundação na estrela-do-mar é externa. Os adultos são carnívoros, alimentando-se principalmente de crustáceos, vermes tubícolas e moluscos, causando nesse caso, grandes danos a ostreicultura.
Sua capacidade de regeneração é bastante grande, podendo um fragmento de braço produzir um novo indivíduo completo.
..:: Classe Concentricycloidea
A classe Concentricycloidea, descrita em 1986, ainda é pouco conhecida. Os primeiros espécimes foram descobertos no início da década de 80, em madeira submersa, entre 1.058 e 1.208 m de profundidade, ao largo da Nova Zelândia, e a cerca de 2.000 m de profundidade ao largo da Ilha Andros, no Caribe. Aparentemente, a distribuição é cosmopolita, ligada à madeira submersa encharcada, o único hábitat onde foram encontradas as duas espécies descritas até o momento.
(papo de biologia)