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BLOG CAIÇARA

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sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

Foto Antiga Cubatão SP: Avenida Nove de Abril em 1935

Foto Antiga Cubatão SP: Avenida Nove de Abril em 1935.


Para Roteiros de Turismo Históricos e Culturais em Cubatão e Baixada Santista



quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

Um Convite para Jantar de 1965 em Italiano. Obra de Luke

Por..:: Renato Marchesini

Ontem minha filha Iara estava lendo o Livro O Pequeno Lorde (1964) de autor  Frances H. Burnet, e durante a leitura caiu um papel. E ao verificarmos era um convite de 1965 e escrito em italiano.

Livro O Pequeno Lorde (1964) de autor  Frances H. Burnet

..:: O Convite

Tamanho 20,5 cm x 6com   , com três dobras, impressão (não identificada), e desenho pintado à mão. O desenho era fixado ao lado direito do convite, porém estava destacado. O mesmo é assinado como autor Luke/65 ao lado da figura.

..:: Perguntas para serem desvendadas/estudadas
Quem será Don José Partinilla Guiu (Pepe)?
Será que os "USUAIS" era um grupo/clube...?
Quem será que confeccionou o convite.? É assinado como Luke/65.
Qual a técnica de impressão?


Convite para Jantar de 1965 em Italiano. Obra de Luke
Clique em cima da imagem para ampliar

..::Texto do Convite
Tradizionale cena dei "SOLITI"
Il giorno 6 di novembre 1965 d.c. non é festa chi se ne frega la cena si fa lo stesso.
Gl'invitati sono pregati (non inchiodati) presentarsi vestiti decentemente.
Il luogo della riunione sara nella rua Marina nº 825, nel bairro Campestre nella residenza dell'illustre Don José Partinilla Guiu (Pepe).
Orario: Ore 18

..:: Tradução do Convite
Jantar tradicional dos "USUAIS"
6 de novembro de 1965 d.c. não é uma festa que se preocupa com o jantar que você faz o mesmo.
As pessoas convidadas são convidadas (não forçadas) a se vestirem decentemente.
O local de encontro será na Marina nº 825, no bairro Campestre, na residência do ilustre Don José Partinilla Guiu (Pepe).
Horas: 18 horas

Foto Antiga: Anos 30 na Ilha Pochat São Vicente SP

Foto Antiga: Anos 30 na Ilha Pochat São Vicente SP.


Para Roteiros de Turismo na Baixada Santista



quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

CAIFAZES: Os guerrilheiros da Abolição / A rota e a vida dos escravizados fugidos para Santos


A rota e a vida dos escravos fugidos para Santos

Não se sabe ao certo a data, mas a chegada dos primeiros escravos negros ao Brasil se deu em meados de 1538 e 1542. No ápice da escravidão no País, entre 1701 e 1810, estima-se que quase dois milhões de africanos tenham sido trazidos em grandes embarcações conhecidas como ‘navios negreiros’.

A casa do Sítio da Ressaca, localizada no Jabaquara, em São Paulo, pode ter sido um quilombo de passagem
Foto: Rodrigo Montaldi/DL

Serviam de mão de obra forçada, não tinham direitos e sofriam todos os tipos de humilhação e violência. Os que conseguiam fugir das senzalas abrigavam-se em quilombos. Santos abrigou três desses refúgios. Muito ainda há de se conhecer sobre esse período.

“Em São Paulo, a escravidão começa quando o café sai do planalto fluminense e entra no interior paulista, em fazendas localizadas em cidades como Jundiaí, Campinas e Mairinque”, explicou o historiador Flávio Viana. Os escravos chegavam ao estado a pé por Minas Gerais ou vindos de barco do nordeste. Na capital paulista não havia muitos escravos. “Eram mais escravos de ganho (que cuidavam da família e da casa) de fazendeiros que tinham casas na Avenida Paulista e passavam dias na cidade negociando o café”, afirmou.

As marcas da escravidão eram facilmente encontradas na pele negra, seja por inscrição feita a ferro quente ou pelos vergões da violência.

“Qualquer negro que fugisse era marcado com F de fujão. Queimavam a pele para saber se era fugitivo. Como na capital havia mais escravos de ganho, que usavam vestes diferentes, o negro visto com calça surrada, descalço e sem camisa era facilmente reconhecido. Os jornais da época publicavam nos classificados anúncio de capitães do mato em busca do escravo que fugiu”.

..:: Libertação
Em 1.880 teve início o declínio da escravidão com o aumento do número de alforris e a revolta negra. O movimento abolicionista foi se fortalecendo e com ele surgiu vertentes radicais, como a dos caifazes – soldados armados vestidos de branco. “Todos voluntários, sempre liderados por um branco. Eles invadiam fazendas durante a noite. Enfrentavam os capitães do mato, arrombavam as senzalas e libertavam os negros”, disse Viana.

Os escravos eram escoltados pelos caifazes até um ponto seguro e de lá seguiam para áreas indicadas pelo movimento de proteção onde eram encaminhados para os quilombos, espaços criados para abrigar os negros fugidos.

Embora o Brasil tenha promulgado leis e assinado tratados internacionais com o compromisso de acabar com a escravidão no país, nada foi feito e a abolição da escravatura foi sancionada apenas em 13 de maio de 1.888, pela Princesa Isabel.

“Foi por causa desse não cumprimento dos acordos que surgiu a expressão ‘feita para inglês ver’. Para ter uma ideia, D. Pedro I, quando declarou a independência assinou tratado que até 1.830, a escravidão seria abolida no Brasil. Em 1.831, ele promulgou uma lei que proibia o tráfico internacional de escravos. Mas o tráfico continuou, assim como a escravidão”, afirmou o historiador.

..:: Sítio da Ressaca e o caminho para o litoral
A casa de taipa localizada no bairro Jabaquara, em São Paulo, com inscrição 1.719 na porta principal, provável ano de sua construção, pode ter sido um ponto onde os escravos fugidos do interior de São Paulo descansavam para seguir viagem até o litoral. Na época, aquela região era de mata deserta. O Sítio da Ressaca fica no interior de um complexo que abriga atualmente biblioteca com acervo dedicado a cultura negra e o Centro de Culturas Negras da capital.

“Não existe registro histórico e oficial de que tenha sido um quilombo de passagem. O que temos são teses de historiadores e de alunos de arquitetura que estudaram esse local. Não temos livros oficiais sobre esse momento histórico que o Jabaquara e que essa região viveu”, afirmou Tatiana Rodrigues Nascimento, bibliotecária responsável pelo acervo temático da Biblioteca Municipal Paulo Duarte.

Segundo o historiador Flávio Viana, que também é advogado e relator da Comissão da Verdade sobre a Escravidão no Brasil da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) Santos, a tese mais provável, embora não exista registro histórico, é de que o Sítio da Ressaca, que recebeu esse nome provavelmente por conta do córrego que passava ao lado, estivesse abandonado e por isso foi utilizado pelos escravos como ponto de parada até seguirem para os quilombos de Santos.

“O Sítio da Ressaca pode ter sido um quilombo de transição. Eles eram escoltados pelos caifazes e a pé iam pelas estradas vicinais ou seguiam a linha férrea com destino a Santos. A rede protetora dizia que horário era bom e que caminho era mais fácil”, afirmou Viana.

Nesse período, anos antes da oficialização da abolição da escravatura, o transporte de cargas para o litoral era feito por trens e a Calçada do Lorena, caminho de pedra feito na serra do mar, caiu em desuso. “Ela estava abandonada. Pela calçada não seriam facilmente descobertos. A alfândega ficava em Cubatão, mas eles passariam pelo meio do pântano por fora”, destacou o historiador.

Ao chegar a Santos, cidade considerada abolicionista, os escravos eram acolhidos pela igreja católica. “Provavelmente eles eram recebidos na Igreja do Valongo. Passavam pelo túnel subterrâneo do Valongo para a Igreja do Rosário dos Homens Pretos, na Rua João Pessoa. Ali esperavam anoitecer e, na madrugada, seguiam para os quilombos”, afirmou Viana.

A tese pode ser reforçada devido a coincidência dos nomes dos bairros paulistano e santista. Curiosamente Jabaquara abriga o Sítio da Ressaca, em São Paulo, e em Santos dá nome à região onde foi localizado o maior quilombo da ­cidade.

..:: Os três quilombos de Santos
Os escravos fugidos que chegavam a Santos seguiam para um dos três quilombos existentes na cidade. O do Jabaquara, liderado por Quintino de Lacerda, foi considerado o segundo maior do Brasil – o primeiro foi o de Palmares, em Alagoas - e abrigou cerca de 10 mil negros. Os outros quilombos do município Pai Felipe e Santos Garrafão eram menores, mas não menos importantes.

“Os quilombos tinham organização de defesa e uma hierarquia com forma econômica e de sobrevivência. O escravo era autorizado a ficar pelo líder do quilombo. Ele dizia onde ele iria morar e se teria de construir alguma coisa. Tudo era feito de forma ­comunitária sobre a regência do líder. Ele comandava tudo”, explicou o historiador Flavio ­Viana. Esses territórios eram desenvolvidos em áreas consideradas de ­difícil acesso.

O quilombo do Jabaquara era liderado por Quintino de Lacerda, sargento de patente do Exército e que anos mais tarde foi eleito o primeiro vereador negro de Santos. Era localizado na região que atualmente leva o mesmo nome, no sopé do morro do ­Jabaquara.

O quilombo do Pai Felipe, localizado ao lado do quilombo do Jabaquara, nas encostas do Monte Serrat, tinha o mesmo nome de seu líder e característica mais voltada à religiosidade.

Já o Santos Garrafão ficava na Ponta da Praia. Não se sabe ao certo em que região. O quilombo foi formado em uma área rural. “Ele (o Santos Garrafão) vendia pinga na Ponta da Praia. Na Ponta da Praia haviam sítios grandes e alambiques de cachaça de cana de açúcar. Ele permitia que os negros morassem na terra dele em troca de trabalho”, afirmou o ­historiador.

..:: Pós-abolição: negros sem terra, sem nome e sem trabalho
Com a abolição da escravatura, os quilombos santistas foram se dissolvendo. Os quilombolas do Jabaquara migraram para habitações precárias no Centro, próximo ao Porto, onde muitos conseguiam trabalho como carregador. Santos Garrafão vendeu o sítio. Os moradores do Pai Felipe seguem para os morros do Bufo e Pacheco, que se tornariam os primeiros redutos de predominância negra pós-abolição na cidade. Apesar da liberdade, a vida ainda ­continuaria difícil.

“O primeiro censo mostra quantidade grande de negros em Santos pós-abolição. A maioria ficou pelo Centro antigo e região do Mercado municipal e Cemitério do Paquetá. Uma lei de antes da abolição proibia negro de comprar terra mesmo sendo alforriado”, explicou o historiador Flávio Viana.

Os escravos então libertos não tinham nome de origem africana. Foram batizados na igreja católica com nomes cristãos: José, Maria, Pedro.  

“Quando houve a abolição esses negros tiveram que ser libertados e registrados. Não tinham sobrenome. Não sabiam o que era sobrenome. Acabavam dando o sobrenome dos patrões, a maioria portugueses. Por isso que no Brasil não tem negro com nome africano”, ressaltou Viana.

Encontrar trabalho também foi dificuldade. As leis também proibiam o negro de ter chapa como motorista de táxi e de exercer profissões de cunho liberal, a maioria vivia de pequenos serviços ou do trabalho portuário. “Se pegar fotos do Porto de Santos até o início da mecanização eram negros que carregavam sacos nas costas. Sacas de café de 60 quilos”, afirmou Viana.  

As leis de vigilância sanitária no Brasil também fizeram com que os negros se distanciassem de áreas consideradas nobres. “O movimento de limpeza política e higienista exigia que se derrubasse tudo para a construção de avenidas e palácios. Esse pessoal não tinha muito que fazer e acabou migrando para as periferias”, conclui o historiador.  

..:: Centro de Culturas e biblioteca evidenciam história afrobrasileira
No complexo onde está localizado o Sítio da Ressaca, no bairro do Jabaquara, na capital paulista, a história e cultura afro-brasileira são evidenciadas. As atividades realizadas no Centro de Culturas Negras do Jabaquara são abertas ao público em geral. A objetivo é fazer com que o espaço, que também abriga biblioteca com acervo temático, se firme como equipamento referência e de diálogo.

“Uma das nossas metas é fazer com que o espaço tenha a identidade de nome, visual e geográfica consolidada e firmada de uma vez por todas. A segunda ideia é que a gente consiga estabelecer uma rede nacional em que todos esses espaços, que eu chamo de espaço de referência da cultura negra, eles possam dialogar e promover trocas culturais entre eles. Penso que isso vai reforçar o trabalho e a valorização de várias coisas no Brasil como um todo”, destacou Gerson Rodrigues, coordenador do Centro de Culturas Negras do Jabaquara.

O gestor também comentou a relação do Sítio da Ressaca com os quilombos de Santos e a história da escravidão no Brasil. “Estamos iniciando pesquisas em parceria para identificar o que era o Sítio da Ressaca antes mesmo de ser o sítio, depois que se tornou o sítio com a chegada desse equipamento cultural e como se deu essa relação com os homens negros de São Paulo”, afirmou Rodrigues.

O acervo temático da biblioteca, que conta com obras de autores negros e que faz referência ao negro, pode ser consultado por qualquer pessoa. “É um dos únicos da cidade de São Paulo. Um dos únicos que resgatam esse assunto e procuram abordar todos os aspectos da cultura negra. Tem esse acervo temático aqui e na faculdade da USP, que é um acervo universitário, não um acervo público e municipal como o nosso”, destacou Tatiana Rodrigues Nascimento, bibliotecária responsável pelo acervo temático. 

Fonte..:: Diário do Litoral, 13 de maio de 2017.

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Movimento abolicionista dos Caifazes

Publicado por: Tales dos Santos Pinto em Segundo Reinado

Os Caifazes constituíram uma das vertentes mais radicalizadas do movimento abolicionista, aproximando-se e apoiando as fugas dos escravos.

Durante a década de 1880, a luta pelo fim da abolição conheceu certa radicalização de alguns de seus setores, conformando o que viria a ser conhecido como movimento abolicionista popular. Apoiando as fugas em massa e as rebeliões de escravos nas fazendas, essa vertente do movimento abolicionista aproximava-se das ações autônomas desenvolvidas pelos cativos, fortalecendo a luta contra a escravidão no Brasil.
Negros lutando capoeira, em pintura de Augustus Earle (1793-1838), 
uma das formas de resistência corporal e cultural dos africanos escravizados

Um desses grupos que ganharam destaque foi o dos Caifazes. Formado inicialmente por Antônio Bento de Souza e Castro (1843-1898), o grupo expandiu-se entre os setores populares da sociedade paulista na década final do Império, criando uma extensa rede de solidariedade à luta dos escravos.

Antônio Bento era membro de uma família abastada da sociedade paulista e formou-se em Direito pela Faculdade de Direito de São Paulo. Foi ainda delegado, promotor e juiz, mas acabou, com sua atuação, criando vários desentendimentos com os proprietários de escravos, já que favorecia os escravos. Um exemplo eram as ações judiciais em que Bento indicava abolicionistas para determinar o valor de alforrias, o que tornava o preço baixo e acessível aos escravos, ou mesmo com os despachos em que apontava a ilegalidade de manter no cativeiro escravos ingressados no país em 1831 e 1850. Posteriormente, Antônio Bento tornou-se jornalista, com o jornal A Redenção, divulgando os posicionamentos abolicionistas.

Um dos locais em que o grupo se organizava era a irmandade católica de Nossa Senhora dos Remédios. Os caifazes eram formados principalmente por tipógrafos, artesãos, pequenos comerciantes e ex-escravos. A atuação do grupo consistia em organizar e planejar em conjunto aos escravos das fazendas e das cidades fugas em massa, garantindo ainda condições para os deslocamentos dos fugidos. Uma das figuras que se destacaram nesse tipo de ação foi Antônio Paciência, que, como seu nome mesmo revela, era utilizado principalmente na observação das condições propícias às fugas.

Outra das figuras que contatavam os escravos nas fazendas eram os chamados “cometas”, caixeiros-viajantes que tinham acesso aos latifúndios. Após a realização da fuga, muitos desses escravos se dirigiam às ferrovias onde eram transportados clandestinamente com o apoio dos trabalhadores ferroviários. O destino era geralmente as cidades de São Paulo e Santos, no litoral da província.

Em muitos casos, os caifazes conseguiram resgatar das mãos das forças policiais escravos que haviam fugido e tinham sido capturados, contando ainda com apoio popular. Esses resgates ocorriam mesmo à luz do dia, após a criação de alguma falsa confusão que facilitava a ação.

Na cidade portuária, os Caifazes constituíram ainda o Quilombo de Jabaquara, que chegou a receber cerca de 10 mil escravos fugidos. Nesse local e também em outras cidades, as relações estabelecidas com comerciantes e alguns industriais garantiam empregos aos escravos que escapavam do cativeiro.

Os fazendeiros viam que as garantias legais que tinham sobre a propriedade escrava eram retiradas na prática pelos próprios cativos e seus apoiadores. Eles passaram a protestar pelo fato de perderam o controle sobre a propriedade que tinham sobre as pessoas. Segundo Antônio Rodrigues de Azevedo Pereira, Barão de Santa Eulália, “negar-se que nesta Província [de São Paulo] não há garantia para a propriedade escrava é não ver o sol. Aí está na Capital o Antonio Bento acolhendo negros de fazendeiros e os alugando por conta própria, sem que os donos posam reavê-los.” [1]

As ações dos caifazes representavam a entrada do abolicionismo dentro das senzalas e eitos, aproximando, dessa forma, a insatisfação dos trabalhadores escravizados com a agitação proporcionada também pelo movimento abolicionista nas cidades. Com essas ações populares, atacava-se o principal pilar de sustentação do Império. Segundo Maria Helena Toledo Machado, “o cimentar de solidariedade entre escravos, libertos, plebe e abolicionistas radicalizados, mesmo como virtualidade, foi percebido e combatido pelas autoridades, como um dos maiores desafios à superação controlada e conservadora da ordem escravista”.[2]

Notas
[1] BRANDÃO, Marco Antonio Leite. Abolição da Escravidão nos 'Campos De Araraquara', SP: Notas de Pesquisa. p. 3. Disponível em < http://www.palmares.gov.br/wp-content/uploads/2010/11/ABOLI%C3%87%C3%83O-DA-ESCRAVID%C3%83O-NOS-CAMPOS-DE-ARARAQUARA.pdf>.

[2] MACHADO, Maria Helena Toledo. Escravos e cometas. Movimentos Sociais na década da abolição. Disponível em < http://www.cmu.unicamp.br/seer/index.php/resgate/article/view/62/67 >

Fonte..:: Mundo Educação

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CAIFAZES - Os guerrilheiros da Abolição

A campanha abolicionista ganhou força na década de 1880. E não ficou restrita apenas aos jornais e ao Parlamento, como em anos anteriores. A campanha se deslocou para as ruas e se tornou um movimento popular. A partir do Rio de Janeiro, surgiram, em diversas províncias, sociedades abolicionistas que agitavam a opinião pública. Esse processo levou ao surgimento da Confederação Abolicionista, em 1883, reunindo as sociedades e os movimentos antiescravistas de todo o país. Nesse contexto, um papel destacado coube a um movimento libertador, surgido em São Paulo, conhecido como Caifazes. Esse movimento está intimamente ligado à personalidade de seu criador, Antônio Bento de Souza (1843-1898), filho de rica família paulistana. Neste ponto é preciso contar um pouco da trajetória dessa figura excêntrica.

..:: Antônio Bento

Era visto como uma figura excêntrica por seus modos e aparência, que atraiam a atenção dos mais desavisados quando ele passava. As descrições dele feitas chamam a atenção para as peculiaridades de seu perfil – como fica claro nestas palavras de Raul Pompéia, escritas no dia de morte de Antônio Bento: “Magro, estreitado, do tornozelo à orelha, no longo capote preto como num tubo, chapéu alto, cabeça inclinada, mãos nos bolsos, quebrando contra contra o peito pela fenda da gola o rijo cavaignac [cavanhaque, a barba que cresce no queixo dos homens] de arame, o olhar disfarçado nos óculos azuis como lâmina no estojo, marcha retilínea de passo igual tirado sobre articulações metálicas...” (Raul Pompéia, “Antonio Bento”, Gazeta de Notícias, 27 de agosto de 1888.)

Antônio Bento havia nascido na capital da província em 17 de fevereiro de 1843. Formou-se pela Faculdade de Direito de São Paulo, em 1868, e três anos depois, foi nomeado juiz municipal em Atibaia, no ano de 1871, aos 29 anos. Pouco depois passou a exercer também a função de delegado de polícia, na mesma cidade. Tornou-se uma figura polêmica na cidade, emitindo com frequência despachos favoráveis aos escravos nas demandas judiciais. Seu argumento era que a escravidão era ilegal desde que o tráfico negreiro havia sido abolido por duas leis: uma de 1831, que não foi respeitada, e por outra de 1850. (Tráfico negreiro era como se chamava o transporte de escravos da África para o Brasil.)

Quando era preciso arbitrar o preço da alforria de um escravo, ele costumava nomear abolicionistas, e isso já era o bastante para provocar contra Antônio Bento a hostilidade das elites locais, geralmente formada por proprietários de escravos e defensores de seus interesses. Chegou a sofrer um atentado em 1871: no momento em que fechava a janela de sua casa, às 10 horas da noite, dispararam-lhe um tiro da rua, ficando toda a carga da espingarda na folha da janela, “a 4 polegadas acima da sua altura.” Diversas reclamações contra ele chegaram ao presidente da província. Entre outras reclamações, ele era acusado de “abuso da autoridade” e de ter pouco “conhecimento das matérias de direito”. As reclamações chegaram ao Ministério da Justiça e ele acabou demitido em 1875, “a bem do serviço público”. Afastado de suas funções oficiais, o ex-juiz se entregou de corpo e alma ao abolicionismo. E se tornaria célebre por isso.
Mudou-se para a capital da província em 1877, passando a dedicar-se à advocacia e ao jornalismo. Em 1880, travou relações de amizade com o abolicionista Luís Gama, que viria a falecer dois anos depois. Diante do túmulo do amigo, fez o juramento de continuar o combate pelo fim da escravidão. Mas sua opção de luta seria diferente daquela de Luís Gama: não seguiria pelo caminho da batalha jurídica, mas sim pelo caminho da ação direta. Nascia ali a ideia de organizar o movimento dos caifazes.

..:: Os Caifazes
A historiadora Maria Lucia Montes, em artigo publicado na Revista de História, nos conta como seria a ação dos caifazes e o papel que teve Antônio Bento. “Negando o instrumento legal da alforria como única via de emancipação, o grupo valia-se da força e da astúcia para atacar diretamente a propriedade escrava. Para isso, contava com centenas de colaboradores anônimos. Organizados em pequenos grupos de ação nas cidades ou disfarçados de caixeiros-viajantes no interior – os chamados “cometas” –, promoviam fugas em massa das fazendas, roubavam escravos em casas de família e realizavam mirabolantes resgates em estações ferroviárias. Depois ajudavam os fugitivos a chegar a refúgios seguros, como o Quilombo do Jabaquara, organizado e mantido por abolicionistas santistas a partir de 1882, e por onde se calcula que passaram cerca de 10 mil escravos fugidos.

Capa da Revista Illustrada, por Ângelo Agostini (1843-1910). Uma sátira à tentativa do 
senhor de proteger  seu escravo da liberdade com um guarda-chuva.

“Um dos segredos de Antônio Bento para costurar sua vasta rede de solidariedade era circular por diferentes setores sociais. Era integrante da Maçonaria, [...] convivendo de perto com membros da elite. O movimento dos caifazes contava assim com a ação de magistrados, advogados, chefes de polícia, parlamentares, jornalistas, comerciantes, donos de armazéns, controladores da Alfândega, empregados em serviços de navegação costeira e de longo curso e até mesmo membros de famílias de fazendeiros e corretores de café, mantendo também, ao mesmo tempo, uma vigorosa rede de apoio popular.

“Os mais abastados bancavam os deslocamentos dos caifazes e “cometas”, a fuga e o refúgio aos escravos foragidos e até as custas dos processos para conseguir sua libertação ou a compra das cartas de alforria. Tratavam também de conseguir para os escravos resgatados colocações como trabalhadores livres em fazendas de café de outras regiões, no porto ou em pequenos serviços urbanos, como carregadores, carroceiros, pedreiros ou vendedores.

“Por sua vez, a arraia miúda do povo, organizada em torno das irmandades negras, dava ao movimento um apoio invisível, mas vital. Era o caso dos modestos empregados das estradas de ferro – ironicamente, a última novidade destinada a incrementar a exportação do café. Graças àqueles caifazes, os trens se tornaram o principal meio para as fugas de escravos, que eram conduzidos clandestinamente até a capital ou o porto de Santos. Cocheiros e carroceiros das estações eram outros a favorecer escapadas espetaculares, em resgates feitos em plena luz do dia. Houve mesmo um caso em que se juntaram a cerca de 500 populares na astuciosa armação de um conflito de rua, onde destemidos capoeiras desbarataram um grupo de policiais e capitães do mato para impedir que dez escravos por eles recapturados, depois de chegarem a Santos escondidos em tonéis de vinho, fossem embarcados no trem que iria conduzi-los de volta a fazendas do interior.

"Fuga de escravos", tela de François Auguste Biard , de1859.

“Em Santos, gente do povo e até imigrantes se encarregavam de cuidar das necessidades cotidianas da população flutuante de fugitivos do Quilombo do Jabaquara. Era o caso da negra Brandina, uma dona de pensão, e seu amásio, Santos “Garrafão”, português empregado numa casa de comércio de um influente abolicionista. Juntos, Brandina e o português mantinham um pequeno quilombo na Ponta da Praia e forneciam alimentos e cuidados de saúde na Santa Casa de Misericórdia para os refugiados no Jabaquara. “Garrafão” era um dos principais articuladores entre os caifazes de Antônio Bento em São Paulo e os abolicionistas santistas.

“Ao confiscar a mão de obra escrava e inserir os recém-libertos no mercado de trabalho assalariado, Antônio Bento e seus caifazes conseguiram desarticular as bases da economia cafeeira paulista na década de 1880. Suas ações refletiam um sentimento que cada vez mais se generalizava entre todas as classes sociais: o repúdio à escravidão. Quando as próprias forças de segurança começaram a se recusar a perseguir os escravos fugidos tal o seu número, não era difícil antever a proximidade da abolição. Muito mais que uma concessão do poder imperial, ela foi, em São Paulo, uma conquista do povo e dos próprios escravos.”

..:: Bibliografia:

Fonte..:: Divaltegarcia


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Foto Antiga Santos - Lagoa da Saudade, Morro da Nova Cintra - 1931

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Resumo do Livro: O que faz o brasil, Brasil? De Roberto DaMatta

Por..:: Renato Marchesini
O que faz o brasil, Brasil?
O título do livro dá margem para que se faça uma reflexão entre os dois brasis: o primeiro “brasil” (escrito com inicial minúscula) que faz alusão ao país explorado, sem condições de ter um sistema organizado; e o segundo “Brasil” (esse escrito como se deve, com inicial maiúscula) que é uma representação da nação brasileira, com suas características e seus valores.
Que Brasil é esse? O autor através do livro quer levantar a questão da identidade brasileira. O que é o Brasil?
Ao longo do livro o autor faz questionamentos sobre identidade, sobre o comportamento, as relações étnicas, sobre as metáforas e comparações utilizadas no dia-a-dia do brasileiro. Revela as características do Brasil e dos brasileiros através de suas festas populares (em especial o carnaval), manifestações religiosas, costumes, literatura e arte, enfim ele faz grande usos dos aspectos da cultura brasileira.
O autor nos convida, portanto a enxergar o Brasil com um olhar diferente, não aquele cristalizado em textos e livros ingênuos ou aqueles apresentados por estrangeiros que levam em consideração apenas certos aspectos, mesmo importantes, mas não suficientes para se fazer uma opinião sobre esse fenômeno, esta grande nação que é o Brasil. Em aspectos gerais “O que faz o brasil, Brasil?” consegue abordar de forma ampla e crítica as características da sociedade brasileira.
Nessa obra DaMatta apresenta em seus capítulos focos temáticos como:
1º capítulo “A questão da identidade”, onde ele discute as questões histórico-culturais que caracterizam o povo brasileiro;
2º capítulo “A casa, a rua e o trabalho”, retrata a forma com que o brasileiro tem a casa como um espaço sagrado, a rua como o local do perigo e o trabalho como um forma de castigo;
3º capítulo “A ilusão das relações raciais”, onde focaliza os aspectos entre negros, brancos e mulatos, deixando claro que nossa sociedade é racista, mas não tem coragem de admitir essa posição preconceituosa;
4º capítulo “Sobre mulheres e comidas’, apresenta a relação que o brasileiro construiu entre a comida e a sexualidade;
5º capítulo “O carnaval, ou o mundo como teatro e prazer”, descreve a festa em que o excesso é permitido;
6º capítulo “As festas da ordem”, onde essas festas são vistas como forma de recriar e resgatar o tempo, o espaço e as relações sociais;
7º capítulo “O modo de navegação social: a malandragem e o “jeitinho”, analisa o jeito “safo” do brasileiro, que sempre encontra uma forma de fugir de determinadas situações;
8º oitavo e último capítulo “Os caminhos para Deus”, retrata a fé do povo brasileiro.
DaMatta faz bastante uso de comparações entre o Brasil e os EUA, mostrando vários aspectos que diferenciam a nossa sociedade da sociedade americana, como por exemplo a forma de se alimentar, a questão racial, etc.
Ele quer ver e ler o Brasil no seu tudo, “Brasil” dos ricos e pobres, dos cultos e analfabetos, dos santos e orixás, com seus anjos e demônios, na sua grandeza, mas também na sua fraqueza, o Brasil do dia-a-dia que diferenciam o Brasileiro com qualquer outro povo.
Por isso, ele propõe buscar o Brasil na sua comida, no seu feijão, mas também na sua mulher, nas suas relações com a família, a casa, a rua, o trabalho, a lei, no carnaval, no jeitinho e na malandragem.
Brasil é país, é cultura, local geográfico, fronteira e território reconhecido internacionalmente, e também casa, pedaço de chão, calçado com o calor de nossos corpos, lar, memória e consciência de um lugar e, brasil = objeto sem vida, autoconsciência ou pulsação interior, pedaço de uma coisa que morre e não tem a menor capacidade de se reproduzir como sistema.
Buscar o Brasil além do que transparece na cara de cada brasileiro e que lhe dá aquele orgulho de dizer “eu sou Brasileiro”, levando nesse “Brasileiro” o Brasil Brasileiro.
Referências
DaMatta, Roberto. O que faz o brasil, Brasil? Rio de Janeiro: Rocco: 1986. Disponível em: http://www.iphi.org.br/sites/filosofia_brasil/Roberto_DaMatta_-_O_Que_Faz_o_Brasil_Brasil.pdf. Acesso em 19.02.19>. Acesso em: 18 de fevereiro de 2019.
Entrevista. Bovarismo ou a mania de não ser - Roberto DaMatta - Entrevista - Canal Futura. 15 de abril de 2016. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=gJQyjtEqRXA. Acesso em: 19 de fevereiro de 2019.
Fecomércio SP. Roberto DaMatta analisa a sociedade brasileira contemporânea. 03 de abril de 2014. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=-EOWVc3zpcM. Acesso em: 19 de fevereiro de 2019.
MrJGSABINO. Roberto da Matta explica o Brasil - Carnavais, Malandros e Heróis (Bloco 1 de 3).   01 de abril de 2016. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=eqsgtA0KhSQ. Acesso em: 19 de fevereiro de 2019.
Youlanda Lundeen. Intérpretes do Brasil | 11 de 15 | Leituras do Cotidiano, por Roberta DaMatta.   26 de janeiro de 2018. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=56obl1qun5c. Acesso em: 19 de fevereiro de 2019.

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Somos Vencedores do PRÊMIO TOP BLOG (2013/2014). Categoria: VIAGENS E TURISMO.