Turismo Consciente na
Costa da Mata Atlântica
(Baixada Santista)
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quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Produtos Ecológicos para uma Sociedade Sustentável

Um dos mercados de maior potencial neste século é o de produtos ecológicos voltados ao consumidor final. Esse é um mercado ainda pouco ou quase nada explorado no Brasil e América do Sul, embora já seja uma realidade plena na Europa e na Oceania (Austrália e Nova Zelândia), onde a força e consciência ambiental dos consumidores fazem parte da cidadania daqueles povos.

No Brasil, quando se fala em produto ecológico, quase sempre vem à mente a idéia de artigos artesanais elaborados com matérias-primas naturais ou, em âmbito empresarial, de equipamentos e sistemas para controle de emissão de poluentes, tratamento de efluentes e resíduos industriais. Para o consumidor final, contudo, o conhecimento do que seja um produto ecológico comercial para seu próprio uso ainda é algo muito distante.

Produto ecológico é todo artigo que, artesanal, manufaturado ou industrializado, de uso pessoal, alimentar, residencial, comercial, agrícola e industrial, seja não-poluente, não-tóxico, notadamente benéfico ao meio ambiente e à saúde, contribuindo para o desenvolvimento de um modelo econômico e social sustentável.

O uso de matérias-primas naturais renováveis, bem como o reaproveitamento e a reciclagem de matérias-primas sintéticas por processos tecnológicos limpos (sem a emissão de poluentes e sem o uso de insumos agressivos, como o cloro) permitem classificar um produto como aceitável ou recomendável segundo critérios ambientais. Para exemplificar, alimentos orgânicos são produtos ecológicos, como também o são roupas de algodão orgânico, de juta, de couro vegetal, cosméticos não-testados em animais e isentos de ingredientes agressivos à saúde humana e ao meio ambiente, produtos de limpeza biológicos, inseticidas biológicos, roupas de PET reciclado ou de hemp industrial, adesivos à base de óleos vegetais, tintas à base de silicatos de potássio ou caseína de leite, plásticos biodegradáveis, chapas de plástico reciclado, telhas recicladas, combustível vegetal (biodiesel), biogás, tijolos de solo-cimento e muito outros, que podem ser incorporados ao cotidiano de qualquer cidadão.

Equipamentos energeticamente eficientes, não-poluentes, que utilizem tecnologias limpas ou renováveis (como sistemas de energia eólica, solar, para conversão de biomassa em energia e microusinas) também são ecológicos, uma vez que são capazes de atender a demanda por energia, sem esgotar os recursos naturais ou alterar drasticamente a geografia dos ecossistemas.

É evidente que chamar qualquer produto reciclado ou elaborado a partir de matéria-prima natural de 'ecológico' é, simplesmente, um engodo. Existem critérios e classificações adequadas para isso.

POR UMA POLÍTICA ECONÔMICA VERDE
A proposta do Idhea - Instituto para o Desenvolvimento da Habitação Ecológica ao mercado brasileiro é o desenvolvimento e a fabricação de produtos ecológicos em larga escala voltados ao consumidor final, como forma de colocar em prática o chamado desenvolvimento sustentável e reverter o quadro de devastação ambiental e de esgotamento dos recursos naturais, que ocorrem para atender à demanda das sociedades urbanas.

O produto ecológico, por si só, é capaz de despertar a consciência eco-social da comunidade e educar ambientalmente quem o produz e quem o consome. O Brasil é o país mais rico do mundo em matérias-primas naturais renováveis (23% da biodiversidade planetária), tem um lixo abundante e ainda pouco aproveitado (245 mil toneladas/dia), além de milhões de toneladas de resíduos agrícolas e industriais mal contabilizados. Em suma, tem condição de ser um verdadeiro celeiro de produtos ecológicos e reciclados, gerando emprego e levando cidadania a milhões de pessoas, tornando-se um modelo de sustentabilidade para outras nações. Tecnologia, know-how e criatividade não faltam para isso.

Com incentivos e política adequada, esses produtos poderiam ser exportados para mercados ávidos como o europeu e o australiano e mesmo o norte-americano, em que pese a política de seu governo atual. Hoje, artigos brasileiros como o premiado couro vegetal já são exportados para a Europa, assim como ecoprodutos alimentícios, caso do açaí, amplamente consumido na Austrália.

Organismos governamentais divulgaram a cifra de US$ 6 bilhões anuais movimentados na Europa apenas com produtos orgânicos. Com uma política específica para o mercado verde brasileiro, o país poderia tornar-se um pólo de indústrias verdes ou sustentáveis, tornando-se exportador de bens de consumo verdes, gerando divisas, emprego e renda de forma inteligente, já que também resolveria problemas de resíduos que poluem o meio ambiente e roubam espaço.

Se, ao invés de estimular indústrias poluentes condenados ao desaparecimento como a automobilística movida a petróleo, que recebe milhões em incentivos de toda ordem, houvesse uma política de crédito, ICMS verde, de apoio a projetos comunitários, micro e pequenos empresários, o Brasil poderia contar, em pouco tempo, com um parque industrial inédito, rompendo a dependência tecnológica que escraviza as nações em desenvolvimento.

MERCADO INTERNO
O próprio mercado interno brasileiro dispõe de consideráveis nichos de consumo e poder aquisitivo para ecoprodutos, como nas áreas de energia elétrica -com o uso de fontes geradoras de energia limpa, como a solar e eólica. O Brasil só conta com uma indústria nacional fabricante de painéis solares fotovoltaicos. Outro segmento que conta com potencial imenso é o da construção civil, capaz de absorver inúmeras inovações e resíduos disponíveis na forma de novos materiais.

A área de saneamento é outra de imenso potencial. O Censo do IBGE 2002 mostrou que cercas de 50% dos municípios brasileiros não possuem tratamento de água e esgoto. Essa necessidade poderia ser atendida pelo setor privado através do fornecimento de mini-estações de tratamento, que, além de resolverem um dos principais problemas da saúde pública no Brasil (70% das enfermidades têm origem em água e esgoto não tratados), permitiriam que a água fosse reutilizada no próprio local, reduzindo gastos com grandes estações de tratamento e gerando grande economia para os moradores, da ordem de 50%. Haveria economia de impostos, gastos com obras e seria uma ação educativa, ensinando à população o valor de tratar a água e reusá-la no próprio local.

Para garantir que as empresas privadas oferecessem equipamentos e serviços de qualidade, o poder público poderia funcionar como uma agência reguladora do setor, impedindo abusos e garantindo que os equipamentos e sua eficiência estivessem de acordo com as normas que regem o setor.

Isso deveria ser encarado como um negócio, realizado por pessoas sérias e responsáveis, que pode trazer lucros a todos os envolvidos.

IDENTIFICAÇÃO E CLASSIFICAÇÃO DOS ECOPRODUTOS
O conceito de produto ecológico ou ecoproduto ainda é uma nebulosa para a maior parte dos consumidores brasileiros. Como evidenciar que um produto é realmente ecológico ou que é mais ou menos ecológico do que outro? Como saber que não se está "comprando gato por lebre?”

A forma mais segura de identificação para o consumidor é a partir dos Selos Verdes, como os que já existem na União Européia, Japão, Estados Unidos, Austrália e mesmo em países vizinhos como a Colômbia, que já conta com política oficial nesse sentido. O Selo Verde não é apenas uma logomarca ou um rótulo com a palavra "ecológico" na embalagem de um produto, mas o resultado de uma avaliação técnica criteriosa, na qual serão levados em conta aspectos pertinentes ao seu ciclo de vida, como matérias-primas (natureza e obtenção), insumos, processo produtivo (gastos de energia, emissão de poluentes, uso de água), usos e descarte. No Brasil, os selos verdes existentes só atingem dois segmentos: produtos orgânicos (alimentícios) e madeira.

Um artigo publicado recentemente em uma revista especializada na Espanha analisa o seguinte: (...) "as Um artigo pseudo-etiquetas ecológicas começaram a aflorar a alguns anos, quando muitos fabricantes viram a possibilidade do negócio verde. Marcas como 'amigo do ozônio' podiam ser lidas em muitos dos produtos que se encontravam nas prateleiras de supermercados e grandes lojas. O problema destas etiquetas é que, mesmo que em algumas ocasiões ofereçam uma informação verdadeira, trata-se de publicidade sem nenhum controle por parte de organismos independentes e é a própria empresa que introduz tal denominação".

Esse tipo de atitude, a autocertificação, é um dos principais inimigos do mercado verde, uma vez que pode induzir o consumidor a acreditar que o produto que está adquirindo é ecológico apenas porque carrega este rótulo. No Brasil, há inúmeros casos desses, gritantes, desde ônibus com 'ar condicionado ecológico', a 'plástico que é ecológico porque impede que se derrubem árvores', a poliuretanos 'ecológicos' porque usam óleo de mamona em sua composição, ou fios elétricos 'ecológicos' cuja logomarca é uma florzinha estilizada com o cabo elétrico. Em 99% dos casos, não há o que justifique o termo ecológico, mas, quando muito, o certo seria produto (ou serviço) de baixo impacto ambiental.

A ausência de um setor que pense o mercado verde leva a essas distorções e permite que tanto pessoas bem intencionadas como autênticos 'picaretas' criem uma cultura de ecoprodutos duvidosa. A verdade é que o consumidor não é obrigado a conhecer a verdade por si só. No entanto, ele é o objetivo final do jogo de mercado. Por isso, para que o mercado possa crescer saudável, seria fundamental que no Brasil surgissem Selos Verdes genéricos como já existem em todo o mundo.

Esse Selo Verde não precisaria ser exclusivamente de caráter oficial. Nos EUA, o mais importante selo verde é conferido por uma entidade privada, a ONG Green Seal. Os selos para madeira e alimentos orgânicos também o são. É até mais importante que entidades privadas assumam esse papel, para impedir que corporações possam tentar corromper a máquina governamental para fazer valer seus interesses.

DIFICULDADES
Na União Européia, os parâmetros para se classificar um produto como ecológico são amplamente conhecidos, mas, no Brasil, o tema ainda é novidade. Algumas razões:

O país não conta com legislação para o setor. A ausência de normatização e/ou legislação prejudica a divulgação desse fantástico mercado, uma vez que permite que a desconfiança se instale entre os consumidores, que não têm qualquer referência de confiabilidade. A ausência de regras para o setor também inibe empresários e investidores, muitos dos quais poderiam ser empresas interessadas em "migrar" de um produto convencional para um mais ecológico. Outra conseqüência é a falta de competitividade de produtos fabricados nessa linha hoje no Brasil, a maior parte das vezes com custo superior aos similares não-ecológicos. A única solução, hoje, para quem conta com um produto ecológico e deseja promovê-lo de maneira séria no mercado é realizar testes em instituições de renome, apresentando laudos que tragam credibilidade ao mesmo.

Na Europa, há mais de oito selos verdes genéricos no continente, sendo que o mais antigo é o Anjo Azul alemão. Nos EUA, é comum municípios certificarem empresas recicladoras ou com papel ativo em favor do meio ambiente. No Brasil, há apenas dois segmentos que contam com certificação, ambos para produtos de origem vegetal. Um (o primeiro cronologicamente do país) é o da agricultura orgânica, cuja instituição mais renomada é o IBD (Instituto Biodinâmico), que certifica produtos orgânicos nas áreas agrícola e pecuária; o outro é o madeireiro, através do Conselho de Manejo Florestal (FSC - Forest Stewardship Council), que certifica florestas plantadas com plano de manejo sustentável.

Considerar empresas certificadas pelas normas ISO 14001 como sendo fabricantes de produtos ecológicos ou como sendo elas mesmas "ecológicas" por deterem essa certificação é um grave equívoco e vem gerando confusão. Na verdade, as normas ambientais vigentes não garantem que uma empresa não seja poluidora, mas sim que a mesma busque soluções para seus resíduos e documente todas as ações que possam interferir com o meio ambiente.

Para grande parte dos consumidores, a imagem do produto ecológico ainda está associada a trabalhos artesanais com matérias-primas naturais, quase sempre com custo elevado, com produção restrita. Uma das tarefas prioritárias para quem está ou estará ingressando neste mercado é mostrar as vantagens dos ecoprodutos, como preço, qualidade, durabilidade e constância na fabricação do produto.

As próprias empresas que fabricam produtos ecológicos e reciclados ainda não realizam um marketing adequado a partir desse diferencial. No entanto, já há centenas desses produtos espalhados pelo mercado, sem que seu valor seja devidamente reconhecido.

CRITÉRIOS DE SUSTENTABILIDADE
Para que um produto pudesse receber a tarja de ecológico, todos os processos produtivos deveriam ser apropriados, com o uso de matérias-primas naturais renováveis ou não-renováveis (mas reaproveitáveis), sintéticas reaproveitadas e/ou recicladas, com insumos ecológicos, com baixo custo energético para sua fabricação, com a menor carga residual sobre o meio ambiente, com possibilidade máxima de recuperação ou reciclagem, sem efluentes ou com efluentes tratados e reaproveitados no local. A empresa deveria planejar o produto em todo seu ciclo de vida, incluindo a fase pós-consumo, pela qual deveria responsabilizar-se. Essas medidas afetariam não apenas a empresa, mas também seus fornecedores e consumidores, em suma, todos os elos da cadeia produtiva.

Como o Brasil ainda engatinha nesse sentido e a implantação desses procedimentos está ao alcance apenas de empresas geralmente comandadas por empresários idealistas, a primeira solução proposta pelo Idhea é classificar e certificar produtos genéricos em categorias que poderiam ser as seguintes: Produto Ecológico, Produto de Baixo Impacto Ambiental e Produto de Médio Impacto Ambiental. Essa estratificação não é aleatória, mas uma adaptação de parâmetros que já são aplicados na União Européia.

Esses indicadores serviriam para mostrar o coeficiente de ecologicamente correto de cada produto, que poderia ser elevado à medida que todos seus componentes e processos empregados para sua elaboração fossem sustentáveis ou próximos da excelência.

As empresas ganhariam pontos junto ao consumidor e ao mercado, diminuiriam custos oriundos da insalubridade do uso de materiais agressivos à saúde e meio ambiente e, caso houvesse envolvimento do governo, poderiam receber incentivos fiscais. Outra opção de benefício seria tributar menos ou não tributar produtos reciclados, cuja matéria-prima seria tributada apenas uma vez, quando virgem.

Esse tipo de certificação forneceria parâmetros de credibilidade para esses novos produtos, criando um mercado verde forte e consistente, contribuindo para a construção de uma sociedade sustentável. Além dos produtos, toda uma série de novos serviços como a publicidade verde, hoje inexistente teria espaço para surgir e ganhar fôlego.

Adotar uma política favorável ao mercado de produtos ecológicos é uma prova de que as necessidades do homem moderno podem ser conciliadas com o uso dos recursos naturais e que a ecologia, mais do que um conceito ou peça de marketing, também é um fator de cidadania.

Fonte..:: Arq. UFSC

(ecoturismo, recicle suas idéias)

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