Por..:: Sergio Willians
Quem frequenta o Palácio José Bonifácio, mais conhecido pelos santistas como “Paço Municipal de Santos”, sede da municipalidade (Prefeitura), já se acostumou a ver as duas majestosas estátuas que guardam a entrada principal daquela imponente edificação de estilo neoclássico. Do ponto de vista de quem olha de frente para o prédio, do lado direito está a deusa grega Atena (ou Minerva, para os romanos) e do lado esquerdo, Hermes (ou Mercúrio). O que poucos sabem é que estas duas divindades esculpidas em granito branco não são originais do projeto do Paço Municipal, mas surgiram ali poucos anos depois.
Quando o Palácio José Bonifácio foi inaugurado em 26 de janeiro de 1939, na ocasião do centenário da elevação de Santos à categoria de cidade, as escadarias frontais do luxuoso prédio da Praça Mauá só ostentavam dois vultosos candelabros feitos de ferro batido que, por si só, eram verdadeiras obras primas. Para os santistas, já era bom demais possuir uma sede administrativa de tal porte, e ainda por cima belíssima.
Mas isso não era o suficiente para o artista João Batista Ferri, um escultor de pouco mais de 40 anos de idade, que começava a se destacar no cenário urbano da capital paulista, com projetos de monumentos. Ferri conheceu o Paço Municipal santista e se convenceu de que havia a necessidade de oferecer um “tempero extra” para a fachada já majestosa do edifício.
Assim, escreveu uma carta (datada em 5 de julho de 1940), endereçada ao então prefeito de Santos, Cyro de Athayde Carneiro, oferecendo seus préstimos artísticos para construir três estátuas, sendo uma, em mármore, para o hall e duas, em Granito Branco de Mauá, para a fachada do prédio. A primeira representaria o fundador de Santos, Braz Cubas (que acabou não sendo executada) e as outras duas seriam a representação da “Indústria e Comércio”, fatores principais da evolução e progresso da cidade (simbolicamente traduzida na imagem de Hermes, o Deus do Comércio) e da “Municipalidade” (inspirada na figura de Atena, deusa grega da civilização e da sabedoria).
O prefeito gostou da proposta e mandou reservar os recursos para a contratação de Ferri, assim como, também, para a compra do material de produção. Segundo a proposta, as estátuas teriam as medidas de 0,80 x 2,50 x 2,10 metros, o que representaria um volume aproximado de 4,50 m³, de granito com peso aproximado de 12 mil quilos, cada um. O preço pelos monumentos era de 37:500$000 (Trinta e sete contos e quinhentos mil réis), para cada um, o equivalente hoje a cerca de R$ 370 mil (R$ 740 mil no total). O valor incluía a matéria-prima, o transporte e a colocação, só não incluindo a base, feita de granito “a picola fina”, que deveriam seguir “rigorosamente o caráter e estilo do edifício”. O custo da base foi de 5:700$000 (Cinco contos e setecentos mil réis), o equivalente a R$ 57 mil reais.
O contrato foi celebrado no final de 1940, e o prazo de execução ficou estipulado em 10 meses. Ferri concebeu tudo de acordo com o combinado, encaminhando modelos em barro para a apreciação, e aprovação, do prefeito santista e de uma comissão especialmente criada para tratar do assunto. O escultor só daria início ao trabalho final após aprovação dos protótipos.
Ferri começou pela estátua inspirada na deusa grega Atena que representaria a “Municipalidade”(não era uma representação fiel, por conta do adorno na cabeça do monumento, uma coroa “amurada”, a mesma que se encontrava no Brasão Oficial da Cidade de Santos). Em 6 de março de 1941, em uma visita técnica ao atelier do artista, localizado na Praça Padre Bento, 164, bairro do Pari, São Paulo, os representantes da Prefeitura constataram que ela já estava praticamente concluída e que a segunda, a da “Indústria e Comércio” se encontrava em estado adiantado de produção. Os santistas voltariam a visitar as instalações de Ferri em 20 de maio e 21 de julho, quando constatou-se o término dos serviços.
Tudo pronto, em Santos providenciou-se a retirada dos candelabros. A Prefeitura licitou o serviço e acabou por contratar a empresa Hugo Porta que, por 4:500$000 (Quatro contos e quinhentos mil réis), o equivalente a R$ 45 mil, promoveu todo o trabalho de retirada e colocação dos candelabros no novo lugar, incluindo a instalação elétrica. O trabalho foi executado em outubro de 1941. Ferri logo trouxe as estátuas para, a partir dali, guardar a entrada do Paço Municipal de Santos, com o tempero extra que achou que o prédio merecia ter.
Estátua representando a Industria e Comércio, na figura lendária de Hermes (Mercúrio), o Deus Grego do Comércio. Imagens inéditas das obras no atelier de João Batista Ferri.
Estátua representando a Industria e Comércio, na figura lendária de Hermes (Mercúrio), o Deus Grego do Comércio. Imagens inéditas das obras no atelier de João Batista Ferri.
Estátua representando a Municipalidade, na figura lendária de Atena (Minerva), a Deusa Grega da Sabedoria. Imagens inéditas das obras no atelier de João Batista Ferri.
Estátua representando a Municipalidade, na figura lendária de Atena (Minerva), a Deusa Grega da Sabedoria. Imagens inéditas das obras no atelier de João Batista Ferri.
O Palácio José Bonifácio foi inaugurado em 1939 sem as estátuas. No local onde elas foram colocadas, havia dois candelabros de ferro (que existem até hoje).
Estátua de Hermes, depois de colocada.
Minerva, já colocada na fachada principal do Palácio José Bonifácio.
Carta inicial de João Batista Ferri, oferecendo seus préstimos para a Prefeitura de Santos.
Fonte..:: Memória Santista