Turismo Consciente na
Costa da Mata Atlântica
(Baixada Santista)
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sábado, 4 de fevereiro de 2012

História do Turismo Santista - 1930 a 1960

Por..:: Mauri Alexandrino

Nem a crise de 1929, nem o Estado Novo, nem a Revolução Constitucionalista, nem a guerra ou a queda de Vargas, nada, absolutamente nada, abalou, por décadas, a disposição dos dândis paulistanos em gastar seus dias em Santos. Filhos bem nascidos de uma elite afluente tinham na Cidade o cenário ideal para desfilar seus carros e seu modo de vida extravagante proporcionado pelo dinheiro da família. O tempo do grande turismo santista, aquele que marcou a economia da Cidade por várias décadas, pode-se dizer, ficou confinado entre 1930 e 1960.

 Foi o período no qual Santos se consolidou como o grande balneário de São Paulo. Os hotéis e cassinos estavam entre os melhores e mais concorridos do país, a Estrada Velha do Mar havia sido pavimentada com concreto e as viagens dos valentes motoblocks e fords, da Capital até o Atlântico, já não demoravam mais que algumas horas. Em 1947 chegaria a Rodovia Anchieta, mas não a tempo de entupir os locais de jogatina, porque ela havia sido proibida um ano antes. O governo de Dutra proibiu os jogos de azar e fechou os cassinos. Foi por essa época que a praia, uma atração adicional na paisagem até então, tornou-se protagonista do turismo.

Não que o jogo tenha desaparecido como num passe de mágica, continuou clandestino por toda parte. O novo governo autoritário garantia serem iguais os cidadãos em direitos e deveres, mas os frequentadores de Santos estavam entre "os mais iguais" que os outros. Sempre foi assim. Em 1935, por exemplo, debaixo da ditadura Vargas e sob licença do temido Departamento de Imprensa e Propaganda, o proibidíssimo filme "Inimigo Público", com James Cagney no papel principal, teve sessões especiais no Parque Balneário, para que a fina flor da elite paulista não ficasse sem ver o que os demais não poderiam de qualquer modo.

O Parque Balneário Hotel era o centro de gravidade daquele turismo de luxo que exigia luz elétrica, telefones, automóveis, limpeza acima de tudo, a 10 mil réis de diária, com cobrança de metade para crianças pequenas e "criados da família", como manifestava a publicidade do hotel nos principais jornais paulistanos. Por ali passsaram desde o Rei Alberto, da Bélgica, até presidentes como Getúlio Vargas, Juscelino Kubitscheck e João Goulart, governadores como Júlio Prestes e Adhemar de Barros. Não por acaso, o escritor Jorge Amado localiza ali, naquele hotel, um dos elos centrais do Brasil da época, ocupando todo o segundo volume da trilogia "Subterrâneos da Liberdade".

A praia havia deixado de ser um recurso medicinal, como no início do século passado, e passara a ser um espaço de lazer. Escandaloso para a época. A Igreja local condenava dos púlpitos as roupas "indecentes" de homens de mulheres, maiôs fechados que iam do pescoço até quase aos joelhos, com pequena variação entre modelos masculinos e femininos.

Claro que já existiam pela Cidade as "cabines" para troca de roupa e pensões que abriam para os fins de semana familiares, o início do que poderia chamar de turismo popular, mas isso quase não contava até os anos 1960. As viagens eram complicadas, caras, mesmo as pensões seriam proibitivas para a classe c da época. O que pesava economicamente era o turismo que podia pagar por luxos, que dispunha de tempo, os que enchiam hotéis, cassinos e clubes.

 Uma praia pela manhã, um footing automobilístico pelas avenidas à tarde, os encontros nas sorveterias e cafés elegantes talvez. À noite, podia-se escolher entre os shows do famoso Cassino da Urca, no Rio, que despencavam para cá com regularidade, trazendo Grande Otelo e Oscarito, as vedetes Mara Rúbia e Dercy Gonçalves, estrelas do rádio como Emilinha Borba, Marlene... Uma ópera no Teatro Coliseu? Ou uma sessão de cinema com aquelas telas de última geração, a cinemascope, que só se encontravam nos EUA, no Rio e em Santos.

Quem sabe, um especial de Carlos Gardel no Miramar, ou Nate King Cole, no Parque Balneário? Eram os mais famosos artistas do mundo na época. Não vinham para megaespetáculos caríssimos. Eram shows quase intimistas, com mesas na platéia, após fartos jantares, dividindo o palco às vezes, com a Orquestra de Tico-Tico, produto local com marca reconhecida e apreciada. Baile após o show, sempre.

No mais, roletas, dados, pôquer, bacarat... O jogo fazia o fim de noite, antes e depois da proibição, desde que você fosse um dos "mais iguais". Fortunas se fizeram e também desapareceram naqueles cassinos. Há histórias de corretoras de café inteiras que mudaram de mãos em uma única noite de pôquer.

É desse período que vêm os primeiros grandes edifícios da orla, alguns com requintes hoje impossíveis, mesmo guardadas as mudanças tecnológicas de construção e acabamento. Quem, afinal, mandaria trazer mármore de Carrara, na Itália, apenas para ter um hall de entrada de edifício digno de um imperador romano?

Como nada é para sempre, a maioria dos grandes palacetes e mesmo dos luxuosos hotéis de antigamente já não existem. Foram cedendo lugar à especulação imobiliária, aos prédios de apartamentos de temporada, pequenos e numerosos em cada edifício. Santos se transformava, então, de espaço de luxo em paraíso da classe média paulistana.

Sem o jogo e com a "invasão" de turistas nos anos finais de década de 1950 e início dos anos 60, a riqueza deslocou-se para outras paragens, agora mais fáceis de alcançar. Mas foi esse período de trinta anos que moldou a fisionomia que Santos tem hoje.

Fonte..:: Jornal da Orla

(turismo, fatos_históricos, fotos_antigas)




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