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segunda-feira, 6 de maio de 2019

Ungidos X Renegados: Movimento Contestatório uma “História Vista de Baixo” (History from Below)


Por..:: Renato Marchesini
Atividade de Pós-Graduação em História e Cultura Contemporânea
UFJF / Universidade Federal de Juiz de Fora

Ao tocarmos no tema Ungidos X Renegados, acima de tudo abrimos o debate sobre nomes e temas que recebem pouca atenção da academia e da sociedade. Na expressão própria dos autores são renegados, “marginalizados”. São autores que, mesmo tendo se debruçado sobre variadas temáticas como a organização nacional, política, instituições, artes, literatura, educação, comportamento e partidos políticos, foram considerados “menores” e “não aceitos ou não incorporados pelo mundo acadêmico e sociedade”. Assim, autores e temas que pensaram o Brasil, que participaram ativa e valentemente de tais debates, são por vezes esquecidos na elaboração de bibliografias, dissertações, teses universitárias e consciência social.

Na Historiografia Brasileira e na interpretação da mesma vale trazer o entendimento do professor Rodrigo Christofoletti quanto o trabalho dos renegados. Seus trabalhos são importantes, somente menos conhecidos.

Sobre este esquecimento, acredito que muitas das "memórias silenciadas" são propositais, que não se encaixava no projeto de identidade nacional da época, portanto, uma coexistência estabilizada no que interessa estudar e/ou propagar. Nos dias de hoje diríamos "abafa o caso". E também acredito que deva ser relacionado aos grupos sociais ligados e a forma a qual o mesmo conseguia disseminar suas opiniões. Mas para tanto deve-se mitigar caso-a-caso, época a época.

Vale a atenção que a expansão e/ou atenção aos “Renegados” pode mudar a forma como se conta ou conhecemos a história, desde a estrutura narrativa, passando pela não-linearidade dos fatos antes apresentados. Esta crítica da noção de fato histórico tem, além disso, provocado o reconhecimento de "realidades" históricas negligenciadas por muito tempo pelos historiadores.

A aplicação da história e dos dados da filosofia, da ciência, da experiência e da memória (individual e coletiva) tende a introduzir, junto destes quadros mensuráveis do tempo histórico, a noção de duração, de tempo vivido, de tempos múltiplos e relativos, de tempos subjetivos ou simbólicos a cada nicho da sociedade, que atravessa e é transversal à história e a alimenta de passado e presente. Por isso a importância do entendimento/relação de cultura/história com o contemporâneo. Enquanto conhecimento do passado, a história não teria sido possível se não tivesse deixado traços, monumentos, suportes da memória coletiva. A memória e a história se conversam e se resguardam conforme suas especificidades.

Quando tomando como pressuposto “as ideias fora do lugar” conceito cunhado por Roberto Schwarz, refletimos que seus efeitos são muitos, e levam em longe nossa literatura, mas nos interesses e até a caminhos e a enganos intencionais (memórias criadas), e bem fundado das aparências, onde é possível legitimar por vezes o arbitrário por meio de alguma razão “racional”  o favorecido conscientemente engrandece a si e ao seu benfeitor, que por sua vez não vê, nessa era de hegemonia das razões, motivo que vão além dos naturais debates, um antagonismo “ideia fora do lugar” assim a luz dos estudos provocados por esta pós graduação, inclusive produz a possibilidade nessa era de hegemonia das razões, motivo para desmentir “tais verdades”. Assim podemos e devemos enxergar um movimento contestatório que reforça aquilo que poderíamos chamar de uma “história vista de baixo” (History from Below).

O enredo do Carnaval da escola de samba Mangueira em 2019 trouxe um eco e a reflexão aos esquecidos e renegados. Um olhar para quem deveria estar nos livros e porque, os que estão, foram escolhidos para estar. A proposta era questionar acontecimentos históricos cristalizados no imaginário coletivo e que, de alguma forma, nos definem enquanto nação. Essas ideias de "descobrimento" "independência" e "abolição" postas em cheque ou questionadas para possibilitar o entendimento do desprezo pela cultura nacional e as razões de uma sociedade pacífica ou, porque não, passiva. É um tema que se alinha perfeitamente ao conteúdo do curso e a reflexão contemporânea.

Acredito que os manipuladores (sistema) devem morrer de medo de perderem seus privilégios caso a população abra seus olhos, usam de inúmeras artimanhas para manter parcela da sociedade dócil e obediente e mantendo-os na ignorância.

E que se faça justo e sem prejuízo de existir este “do contra”, o antagonismo “as ideias foras do lugar” é elemento necessário para não cairmos em reprodução social e na armadilha de sermos uma massa de manobra. A boa certeza é sempre duvidar. O pensar diferente ou de outras perspectivas se torna existencial. É a vitamina de novos caminhos e descobertas do mundo e de si próprio.

E se as ideias estão mesmo fora de lugar? Acredito no diálogo com as outras ciências sociais, no alargamento considerável de seus problemas, métodos, objetos, e assim ela pergunta se não começa a perder-se? E me pergunto neste momento se o pensamento tenha que ter o seu lugar ou o desconstruir faz parte do eterno aprendizado.

Olhos, ouvidos e mente aberta....


REFERÊNCIAS:
1.      DOMINGUES, Naíse. 'Marias, Mahins, Marielles': saiba quem são as mulheres negras citadas no enredo da Mangueira. O Globo. Rio de Janeiro. Mar.2019. Disponível em: . Acesso em: 04/05/2019.
2.      ENTENDENDO "Brasil: uma biografia" - Capítulo 07: Memória e História. São Paulo. Companhia das Letras. 2015. Disponível em: . Acesso em: 04/05/2019.
3.      FISCHER, Luís Augusto. Schwarz ensinou a ler país de Machado de Assis, mas tese esbarra em limites. Folha de São Paulo, São Paulo, Nov. 2017. Disponível em: . Acesso em: 04/05/2019.
4.      HISTÓRIA, memória e temporalidade. ANPUH. Florianópolis – SC. 2015. Disponível em: . Acesso em: 04/05/2019.
5.      RESENDE, Letícia Campos de. Literaturas de periferia no Brasil e na França: tradução de ecos e dissonâncias. 2019. Dissertação (Mestrado em Estudos Literários) - Universidade Federal de Juiz de Fora. Juiz de Fora-MG, 2019 163 f. Disponível em: . Acesso em: 04/05/2019.
6.      RICUPERO, Bernardo. Da Formação à Forma. Ainda as “Ideias Fora Do Lugar”. Lua Nova: Revista de Cultura e Política, São Paulo, 73: 59-69, 2008. Disponível em: . Acesso em: 04/05/2019.
7.      ROGER Chartier: O passado no presente - Memória e História. Parte 01. Centro de Pesquisa e Formação do Sesc (CPF Sesc). São Paulo. 2017. Disponível em: . Acesso em: 04/05/2019.
8.      SAMBA-ENREDO da Mangueira em 2019 fará homenagem a Marielle Franco. Poder360, Brasília – DF, 2018. Disponível em: . Acesso em: 04/05/2019.

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