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(Baixada Santista)
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quarta-feira, 1 de maio de 2013

Reportagem Revista Beach Co - Caminhos de Anchieta com a Renato Marchesini


Rota de fé, contemplação e cultura

A rica história da colonização revivida em cores e imagens deslumbrantes durante o percurso dos Caminhos de Anchieta pelo litoral norte paulista

Por..:: Rosangela Falato

Escultura de padre José de Anchieta, na Praça do Aquário, em Santos. A rota é inspirada nos caminhos percorridos pelo apóstolo ao longo da costa paulista (Foto Belissa Barga)

“Todo o Brasil é um jardim em frescura e bosque e não se vê, em todo o ano, árvores nem erva seca. Os arvoredos se vão às nuvens de admirável altura, grossura e variedade de espécies. Muitos dão bons frutos e o que lhes dá graça é que há neles muitos passarinhos de grande formosura e variedade”. Assim descreve nossa floresta e sua rica biodiversidade o “Apóstolo do Brasil”, o jesuíta José de Anchieta, no documento Informação da Província do Brasil para nosso Padre, em 1585.

O documento tornou-se a primeira descrição detalhada da Mata Atlântica, de acordo com publicação do Conselho Nacional da Reserva da Biosfera, que propôs 27 de maio como Dia Nacional da Mata Atlântica em homenagem à floresta e à padre Anchieta nas comemorações dos 400 anos de seu falecimento.

Resgatar essa cultura, a história, e ainda mostrar a importância da preservação do meio ambiente de uma região riquíssima por seu patrimônio natural, levou o governo paulista a lançar, em 2011, a rota Passos dos Jesuítas – Anchieta, inspirada nos caminhos percorridos pelo apóstolo, autor da primeira gramática em língua tupi, publicada em Coimbra, em 1595.

O roteiro contemplativo envolve 370 km, a pé, por 13 municípios desde Peruíbe, na Baixada Santista, até Ubatuba, no litoral norte, palco, em 1563, para o Armistício de Iperoig, o primeiro tratado de paz das Américas, só possível pela intervenção e dedicação de Nóbrega e Anchieta, que selaram a paz entre índios e colonizadores.

A determinação, os conhecimentos e o respeito ao “Apóstolo do Brasil”, que ficou refém dos tupinambás (tamoios) entre maio e setembro de 1563, foram fundamentais para conseguir apaziguar os tupinambás (aliados dos franceses) que pretendiam atacar os tupiniquins (aliados dos portugueses) em um massacre sem precedentes na história. A saga de um dos fatos mais marcantes da história do Brasil é relembrada na encenação Paz de Iperoig, realizada pela prefeitura de Ubatuba desde 2001, entre os meses de outubro e novembro, como parte do programa Passos dos Jesuítas.

Praça dos Canhões, em Ilhabela. Ao centro, o convento Nossa Senhora do Amparo, em São Sebastião (Fotos Rosangela Falato) e, abaixo, o Mirante do Cruzeiro, em Ubatuba (Foto Adriane Ciluzzo)

Quem se aventura a pé pelos 370 quilômetros da rota principal pode levar até 15 dias para percorrer os principais pontos dos caminhos dos jesuítas. A saída é do marco zero, no mercado de peixes, em Peruíbe. Nos 12 municípios seguintes há pontos para descanso, hotéis e pousadas, locais para refeições e toda estrutura necessária. Mas, alguns trechos são mais complicados e merecem maior cuidado. Para se ter uma ideia da extensão, somente as quatro cidades do litoral norte totalizam 191 km dos 370 km de todo o trajeto.

Das 13 cidades do litoral paulista, o trecho de São Sebastião é o maior, com 84 km de caminhada, com subidas pela serra e algumas praias mais desertas. Por isso, é necessária atenção redobrada, até porque, parte do trajeto é realizada na rodovia Manoel Hipólito do Rego (Rio-Santos), que não conta com acostamento na maior parte dos 7 km da serra de Maresias. Aliás, esse trecho exige muita resistência não só de caminhantes como também dos que se aventuram em bikes pela rota.

No litoral norte, o caminho começa pela faixa de areia da praia de Boraceia, costa sul de São Sebastião, divisa com o município de Bertioga. São 84 km até a avenida Emílio Granato, praia da Enseada, divisa com Caraguatatuba. É aconselhável evitar caminhadas à noite, principalmente nesses trechos de rodovia. Um dos pontos mais complicados é na serra de Maresias, pois são 7 km só de estrada, sem qualquer local para parar, e cerca de mais 2 km até chegar ao centro comercial para descansar e lanchar.

Igreja Matriz de Ilhabela (Foto Rosangela Falato). Abaixo, o guia Renato Marchesini e caminhantes na trilha da praia das Toninhas, em Ubatuba (Fotos Frank Constâncio)

A rota também inclui ruas dos bairros de Paúba e Guaecá, incluindo toda a extensão dessa linda praia e também de Barequeçaba, até chegar ao centro de São Sebastião com seus casarões coloniais, que formam o patrimônio histórico e arquitetônico da cidade. Depois, continua pela praia do Pontal, o charmoso bairro São Francisco, a 6 km da região central, com seu tradicional núcleo de pescadores, casas à beira-mar, e onde está instalado desde 1664, pela Ordem Franciscana, o convento Nossa Senhora do Amparo, com uma capela linda. O local é visita obrigatória na Rota da Fé. Os peregrinos ainda passam por trechos da praia das Cigarras até a Enseada.

..:: Caminhos por Ilhabela

Em uma de suas cartas, José de Anchieta relata sua passagem pela região: “Com bom vento, que, porém, logo mudou, mas, ajudando-nos Nosso Senhor, chegamos a uma ilha chamada São Sebastião, despovoada, mas cheia de muitos tigres”. A historiadora e arqueóloga Cintia Bendazzoli, de Ilhabela, descreve em seu blog, que a primeira passagem dos jesuítas teria ocorrido quando navegavam em direção a Iperoig (Ubatuba) para negociar a paz entre os tupinambás e tupiniquins. Eles não teriam percebido a presença dos índios que habitavam a ilha, mas observaram os felinos de grande porte que chamaram de “tigres”. Na ilha, padre Manoel da Nóbrega teria rezado uma missa na praia de Ponta das Canas, ao norte do arquipélago, como informa o próprio Portal do Caminhante, da Secretaria de Turismo do estado de São Paulo. Apesar dos poucos relatos da passagem dos jesuítas, Ilhabela é um convite natural para caminhadas impressionantes.

A rota da peregrinação na cidade começa na travessia da balsa São Sebastião/Ilhabela. São 27 km desde a avenida Princesa Isabel – praia da Balsa, seguindo pelas praias do Perequê, Saco da Capela, Santa Tereza e praia do Viana. Continua pela avenida Leonardo Real, e passa pelas praias Velho Barreiro, Siriúba e Garapocaia, conhecida como Pedra do Sino, cheia de mistérios e lendas. Em direção à vila, na região central, o caminhante encontra o único pórtico instalado no arquipélago, que fica na praça do Píer. A rota prossegue pela praia Saco da Capela, praça das Esculturas, Perequê até retornar à balsa.

Já em Caraguá, são 31 km desde a avenida José Herculano, na barra do rio Juqueriquerê, passando pelas praias do Porto Novo e Aruan até o centro da cidade onde fica o único pórtico da Secretaria de Turismo do estado de São Paulo, na praça Diógenes de Lima. De lá, segue-se até a praia Martim de Sá, depois por ruas da região até a faixa de areia da praia de Massaguaçu. O caminho inclui as praias da Cocanha e Tabatinga até a divisa de Ubatuba. No século XVI, a chamada Vila de Santo Antonio de Caraguatatuba era habitada pelos tupinambás e guaramomis. O local era conhecido como terra abundante em caraguatás, espécie de bromélia cujas fibras eram utilizadas pelos jesuítas na confecção de sandálias. Daí a origem do nome Caraguatatuba, cidade que também oferece muitas opções de passeios aos peregrinos como o mirante do morro de Santo Antônio, de onde se tem um visual incrível da região, a lagoa Azul, na praia do Capricórnio, a ilhota da Cocanha, núcleo de cerâmica Terramar e a fazenda de mexilhões, considerada a maior do estado de São Paulo.

Personagens de Cunhambebe e Padre Anchieta, em encenação do Armistício de Iperoig, em Ubatuba (Foto Adriane Ciluzzo)

O trecho de Ubatuba poderia se chamar “Caminho da Paz”, em alusão ao principal fato histórico, o Armistício de Iperoig, primeiro tratado de paz das Américas. Para chegar ao ponto final da peregrinação, na famosa praia do Cruzeiro, são 49 km de caminhada desde a praia de Tabatinga, na rodovia Rio-Santos. O primeiro pórtico fica no início do trajeto, na praia de Maranduba. Depois segue pela praia da Lagoinha, na rua José Reis Dores. Nesse local, é preciso atravessar a ponte e virar na trilha, à direita, ao lado de uma cerca de condomínio. São 8 km de trilha para as praias do Bonete, Cedro e Fortaleza. De lá, segue para as praias Dura, do Lázaro, Perequê Mirim, Enseada e Toninhas, seguindo pela faixa de areia até chegar a uma escadaria que dá acesso à rodovia Manoel Hipólito do Rego e à praia Grande. De lá, o caminhante prossegue para as praias do Tenório, Itaguá, Iperoig, na rua Nove de Julho, praia do Cruzeiro, na avenida do Cruzeiro, onde, finalmente, está o 20º e último pórtico, encerrando a Rota da Fé.

..:: Roteiro alternativo

Proporcionar a oportunidade para que pessoas de todas as idades possam ter a experiência de conhecer a importância da região na história do Brasil, percorrer trilhas e se encantar com um cenário que foi tão bem descrito por Anchieta. Essa é a proposta do Sesc Santos que concluiu um roteiro alternativo, bem mais tranquilo, mas não menos emocionante e repleto de novidades. Em parceria com Renato Marchesini, guia de turismo, um grupo de 40 pessoas participou da rota da peregrinação pelos 13 municípios.

Foram 12 etapas, uma por mês, sempre aos domingos, de Peruíbe a Ubatuba, com média de 8k a16 km por caminhada, dependendo das particularidades de cada local, o que envolvia fatores históricos, culturais, arquitetônicos, atrativos e níveis de dificuldade.

Renato Marchesini explica que “são poucas as pessoas que possuem vários dias disponíveis para realizar o percurso direto. Desta forma, conseguimos fazer com que o roteiro atendesse uma diversidade de perfis, de jovens à melhor idade”.

Aos 63 anos, o sonho da santista Regina Célia Guerra Azevedo é fazer o caminho de Santiago de Compostela, na Espanha. Enquanto isso, resolveu embarcar na aventura de conhecer um pouco mais sobre o passado da região. “Conheço muito a minha região, mas sabia pouquíssimo sobre a guerra dos tamoios, a vida dos tupinambás e tupiniquins, a história de Hans Staden e comecei a imaginá-los fazendo essas caminhadas naquela época”, disse Regina.

“Achei as caminhadas maravilhosas. É um tremendo programa, uma aula de história e ainda ajuda muito na saúde da gente”, disse Julio Fernandes, que se sente melhor do que muito jovem, no auge de seus 68 anos. Para Adilson Barbierine Simões, 71 anos, o trajeto pelo litoral norte trouxe lembranças da infância: “Minha família tem origem em São Sebastião e Ilhabela. Para mim, foi uma volta ao passado, além de ter sido gratificante conhecer fatos curiosos da história.”

Praça da Paz de Iperoig, na praia do Cruzeiro, em Ubatuba (Foto Adriane Ciluzzo)

..:: Percurso
O roteiro turístico Passos dos Jesuítas – Anchieta tem início em Peruíbe, no litoral sul, e término em Ubatuba, no litoral norte. A caminhada passa por 13 cidades (Peruíbe, Itanhaém, Mongaguá, Praia Grande, São Vicente, Cubatão, Santos, Guarujá, Bertioga, São Sebastião, Ilhabela, Caraguatatuba e Ubatuba), num percurso de 360 quilômetros. O percurso foi inspirado no Caminho de Santiago de Compostela, na Espanha, e já atrai grande número de peregrinos. O Guia do Caminhante pode ser retirado junto com o Cartão do Caminhante em um dos postos de emissão indicados no portal www.caminhasaopaulo.com.br. É possível realizar todo o percurso pela praia a partir das setas existentes em toda a rota, mas o ideal é aproveitar as belezas e as atrações turísticas e históricas de cada uma das cidades contempladas pelo roteiro.

Peregrinos na praia das Toninhas, em Ubatuba (Foto Frank Constâncio)


Para Acompanhamento de Grupos com o Guia Renato Marchesini


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