O ato aparentemente inocente de comprar algumas postas de cação na
peixaria pode piorar ainda mais a situação de espécies brasileiras de
tubarões e arraias, dizem biólogos da Unesp.
Análises genéticas conduzidas por eles indicam que animais ameaçados do grupo estão chegando aos mercados sem que se perceba.
Pior ainda, essas espécies também estão alimentando o mercado
internacional (basicamente chinês) de barbatanas de tubarão, um dos
principais responsáveis pelo declínio populacional desses predadores nos
oceanos.
Os dados da equipe da Unesp foram apresentados no 58º Congresso Brasileiro de Genética, realizado recentemente em Foz do Iguaçu.
Fernando Fernandes Mendonça, pesquisador do Laboratório de Biologia e
Genética de Peixes da Unesp de Botucatu, diz que a identificação
genética é uma ferramenta importante para flagrar esse tipo de
transgressão porque, em primeiro lugar, é muito difícil distinguir as
espécies apenas visualmente.
Além disso, é comum os pescadores retalharem o bicho ainda em
alto-mar, retirando cabeça e nadadeiras, o que dificulta ainda mais o
reconhecimento do animal.
Para chegar a uma forma de “RG genético”, Mendonça e seus colegas
usaram trechos de um gene presente no DNA das mitocôndrias, as usinas de
energia das células.
Conhecido pela sigla COI, ele já está consagrado nos padrões
internacionais de “códigos de barra de DNA”, como são chamadas as
iniciativas para identificar espécies com base numa análise genética
simples.
Seguindo esse padrão, a equipe do laboratório já tem meios de
identificar mais de uma dezenas de espécies brasileiras de tubarões e
arraias.
Primeiro teste – O primeiro teste dessa ferramenta
foi com uma série de carregamentos de barbatanas de tubarão apreendidos
pelo Ibama no Pará (uma das bateladas tinha quase 8 toneladas do
produto).
Logo de cara, uma malandragem ficou clara. Embora a declaração feita
para as autoridades brasileiras afirmasse que as barbatanas eram apenas
de tubarão-azul, as embalagens (para exportação) também mencionavam o
tubarã-mako e o tubarão-raposa nos carregamentos.
Pior ainda, a análise de DNA demonstrou que a amostra também continha
10% de barbatanas de uma espécie de tubarão-martelo e de
tubarão-raposa, ambos animais cuja captura está proibida.
Em estudo publicado neste ano, os biólogos analisaram capturas em portos da Bahia ao Rio Grande do Sul.
O objetivo era saber se a arraia-viola (Rhinobatos horkelii,
conhecida assim por causa do formato característico de seu corpo)
estava sendo pescada -o bicho está criticamente ameaçado de extinção e
só existe no litoral do Brasil e da Argentina.
“Nós íamos a barcos de pesca e mercados e perguntávamos se o pessoal
tinha arraia-viola para venda. Em geral, ninguém admitia. A carne era
vendida como cação”, diz Mendonça.
Não foi o que o DNA mostrou. Em vários locais, mais da metade da
amostra correspondia à arraia, e em Santa Catarina 100% dos espécimes
eram da espécie ameaçada.
Num plano de ação para as espécies de tubarões e arraias do país,
aprovado neste ano, o Ibama diz que pretende usar os métodos para
melhorar a fiscalização, mas ainda não definiu quando fará isso.
Fonte..:: Reinaldo José Lopes/ Folha.com / Ambiente Brasil
(recicle suas idéias, papo de biologia)
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