Lápis e caneta na mão e vamos à receita. Ingredientes: uma galinha azul,
pintadinha, é claro; algumas cantigas de roda universalmente
conhecidas; alguns desenhos coloridos. Misture tudo, coloque no youtube
e nas prateleiras. Pronto!! É só esperar e colher os frutos dos 300
milhões de acessos, milhares de CD´s e DVD´s vendidos, casas de show
lotadas, etc...
Parece bem simples, mas não é possível que seja só isso... Quem já viu o
encontro entre essa mídia infantil e seu público alvo (crianças de 0 a 5
anos) deve ter ficado com a pulga atrás da orelha. Os pequeninos ficam
fascinados, paralisados, mudam o comportamento e parecem estar
hipnotizados. A música, os traços, as cores, não tem nada de realmente
diferente e novo nisso. Qual serão, então, os ingredientes secretos
desse fenômeno que é a Galinha Pintadinha?
Segundo o neurologista Leandro Teles,
“o verdadeiro pulo do gato, ou da galinha, é ter sido feita sob medida
para o cérebro infantil. Cumpre perfeitamente duas missões: chamar
atenção da criança, tarefa essa não muito difícil, convenhamos; e
sustentar essa atenção por minutos, até horas. Isso, sim, não é para
qualquer um”.
O especialista dividiu a análise desses aspectos
sobre a percepção infantil e os detalhes técnicos dessa produção de
grande sucesso em duas partes: visual e sonora. Entenda, você também, o
segredo desse hit entre crianças.
Parte visual
Criança pequenas são ávidas por estímulos visuais, adoram objetos
coloridos e movimentos. Gostam do simples: traços diretos e grosseiros.
As cores vivas devem apresentar contraste, cada objeto tem uma cor
completamente diferente e destoa do resto. Ou seja, nada precisa
combinar, mas precisa saltar aos olhos. Os personagens são apresentados
no centro da mídia, movimentam-se em bloco, são pouco articulados, de
expressão estática. Isso evita que a complexidade tire o foco da
criança.
Ainda sobre os personagens, esses não são desenhados ao
acaso. Independente se são ET´s, dinossauros, humanos ou animais, eles
geralmente têm a cabeça desproporcionalmente grande em relação ao corpo,
assim como olhos desproporcionalmente grandes em relação à cabeça. Essa
foi outra boa sacada da percepção infantil: as crianças se afeiçoam
precoce e intensamente à face, tendo os olhos como primeiro ponto de
reconhecimento do outro. Os bebês mamam em posição apropriada para fitar
os olhos da mãe, comportamento ausente em outros mamíferos. Os
produtores abusam de faces e olhos, colocando rostos com expressões
“humanas” em animais e mesmo em coisas inanimadas, como o Sol (quem não
se lembra do solzinho dos Teletubbies com cara de bebê?), a Lua,
estrelas, coração, etc... “Existe uma região cerebral especializada
apenas em percepção e reconhecimento de faces”, explica o neurologista.
Alguns
padrões visuais regulares e ritmados surgem eventualmente, como traços
radiais partindo do centro, arco-íris com oscilação, círculos
concêntricos, etc... Mais uma jogada para garantir o canal de atenção
sustentada.
Parte sonora
A sonorização dos
vídeos também é peculiar e nada aleatória. Apresentam-se canções de
melodia forte, marcante, simples e, principalmente, repetitiva. A
harmonia cíclica funciona como um pêndulo de hipnose. É muito facilmente
aprendida e viciante: gruda no cérebro de crianças e de adultos também.
O timbre vocal é específico de canções infantis.
Quando imagem e som se encontram
Essa junção é, talvez, o grande trunfo da produção. A canção e a
animação são expostas sincronicamente. A animação pulsa conforme a
música, enquanto os personagens oscilam no tempo da melodia. Para
complementar, tem até uma bolinha que pula ritmada sobre a letra da
música, dando ainda mais balanço e integrando definitivamente som e
vídeo. “Isso gera entradas paralelas e complementares, tanto em regiões
cerebrais auditivas, mais laterais, como em regiões visuais,
posteriores, exigindo um engajamento cerebral para unificá-los”, atenta o
especialista.
Como podemos ver, existem mais ingredientes secretos do que nossa superficial avaliação poderia imaginar, e deve haver muito mais. Para encerrar, fica aquela velha dúvida: será que a exposição intensa a esse material pode fazer mal a nossas crianças?
“Realmente não vejo problema nenhum com esse tipo de exposição, acho até um estímulo interessante e uma oportunidade para integração social, atividade física e musicalização precoce” conclui o neurologista, mas ressalta: “o problema nasce com uso inadequado, excessivo e sem integração com os pais, familiares ou outras crianças, entrando na rotina em detrimento de outras atividades mais apropriadas”.
Como podemos ver, existem mais ingredientes secretos do que nossa superficial avaliação poderia imaginar, e deve haver muito mais. Para encerrar, fica aquela velha dúvida: será que a exposição intensa a esse material pode fazer mal a nossas crianças?
“Realmente não vejo problema nenhum com esse tipo de exposição, acho até um estímulo interessante e uma oportunidade para integração social, atividade física e musicalização precoce” conclui o neurologista, mas ressalta: “o problema nasce com uso inadequado, excessivo e sem integração com os pais, familiares ou outras crianças, entrando na rotina em detrimento de outras atividades mais apropriadas”.
Fonte..:: Yahoo
(planeta criança)
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