Turismo Consciente na
Costa da Mata Atlântica
(Baixada Santista)
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segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Turismo tanto pode acelerar a degradação como promover a conservação

Instrumento poderoso, o turismo tanto pode acelerar a degradação como promover a conservação.  A segunda escolha é mais inteligente, até porque dela depende a sobrevivência do negócio a longo prazo.

Com a aproximação da Copa do Mundo e das Olimpíadas, o Brasil vive uma oportunidade ainda maior para fazer do turismo uma atividade de peso na economia do País.  E, ao mesmo tempo, dar corpo ao seguinte pensamento: a sobrevivência do negócio está atrelada à conservação do local – em termos ambientais, culturais, históricos – e à inserção social e econômica de quem vive da atividade turística.  Em outras palavras, isso também é sustentabilidade.

O professor Bruno Malhães, mestre em Turismo Internacional pela Universidad de Las Palmas de Gran Canaria, Espanha, tem uma posição enfática: “Está claro que os interesses ecológicos têm de se sobrepor aos econômicos, porque a sobrevivência da atividade turística está diretamente relacionada à experiência que o lugar proporciona”.

Crítico do chamado turismo de massa, Malhães, que leciona no Centro Paula Souza e no Senac São Paulo, defende a atividade como experiência transformadora para quem viaja, e que só pode ser conseguida no contato direto com a natureza e a cultura de cada local.  “O luxo não é a estrutura física, mas estar no lugar.  Por isso é preciso conservar.” O consultor Julio Bin, que há doze anos atua no setor, mas com o turismo como agente de transformação, concorda com Malhães.  “O que existe é a experiência do turista.  Por isso, é preciso manter o atributo vivo.  A razão para que as pessoas queiram visitar aquele local.”

Para conseguir o objetivo de conservar sua riqueza natural e cultural, no entanto, o País precisa trabalhar de forma integrada centrado na resolução de problemas estruturais próprios da cadeia turística, como a qualificação de mão de obra, e outros que não afetam apenas o turismo, como sua precária infraestrutura e a violência que afastam potenciais turistas estrangeiros e desencorajam outros tantos brasileiros.  A Lei Geral do Turismo determina que a atividade turística seja praticada de forma sustentável nas áreas naturais, promovendo a educação e a adoção de práticas compatíveis com a conservação do meio natural.

O turismo mundial movimenta US$ 6 trilhões ao ano, cerca de 9% do PIB global, segundo dados do Relatório Anual de Impacto Econômico, do Conselho Mundial de Viagens e Turismo, e emprega 258 milhões de pessoas.  A previsão para os próximos dez anos é de crescimento anual de 4,2%, informa o presidente da entidade, David Scowsill.  Boa parte desse crescimento virá da entrada de outros 2 bilhões de pessoas para a classe média em países como o Brasil, Rússia, Índia, China e, agora, a África do Sul, os chamados Brics.  “Isso vai exigir uma completa mudança de atitude.  Os governos deverão trabalhar em conjunto com a indústria para fazer com que esse crescimento aconteça de forma sustentável”, alerta Scowsill.

De acordo com o professor Malhães, quando se fala de planejamento sustentável do turismo, é preciso levar em conta seis dimensões: a social, a econômica, a ecológica, a espacial, a cultural e a política.  Por essa razão, não é fácil definir um caminho único para a sustentabilidade do setor, uma vez que os interesses de cada uma das dimensões muitas vezes são contraditórios.  E, para complicar um pouco mais, existe uma mistura de conceitos muitas vezes usados erroneamente como sinônimos: turismo rural, aventura, ecológico, sustentável.

Julio Bin lembra que a sustentabilidade deve ser permeável a todos os mais de 50 setores envolvidos na experiência turística, que vão desde a construção civil até a alimentação e serviços.  “Quando se fala em sustentabilidade, temos de pensar em cada um desses setores fazendo a sua parte.”

A presidente do Conselho de Turismo e Negócios da Fecomercio São Paulo e ex-presidente da Embratur, Jeanine Pires, afirma: “A sustentabilidade ainda precisa entrar no debate do turismo brasileiro”.  Em sua opinião, a rentabilidade pode, perfeitamente, conviver com a conservação dos recursos naturais e a valorização da cultura, apontados pelo Fórum Econômico Mundial como o primeiro fator de competitividade do turismo brasileiro.

O problema é que, embora seja o primeiro país do mundo no quesito riqueza natural (mais em reportagem desta edição), o Brasil não consegue ser competitivo como destino turístico por problemas de infraestrutura, violência e falta de mão de obra qualificada.  Consequentemente, amarga um 52º lugar na classificação geral do ranking de competitividade.  “O que isso quer dizer?  Que o Brasil é um país muito legal, muito bonito.  Mas as pessoas não querem vir pra cá”, constata o consultor Julio Bin.  É por isso que o número de turistas estrangeiros que visitam o Brasil está há anos na casa dos 5 milhões.  “E a metade são turistas de negócios que vêm pra São Paulo”, explica.

Para o Ministério do Turismo, porém, o fato de receber poucos turistas estrangeiros é compreensível, devido às características do País, que fica distante dos principais consumidores externos e tem, em contrapartida, um grande mercado interno.  “É importante ter um olhar para o turista estrangeiro, mas o fato é que o consumidor do turismo brasileiro é o Brasil”, afirma Sáskia Freire Lima de Castro, coordenadora-geral de Segmentação do Ministério do Turismo.

O País, a seu ver, ainda não está preparado para receber um público maior.  “Há muita gente pensando em atrair mais turistas, mas é preciso pensar também no equilíbrio, para não comprometer o patrimônio natural.” Para ela, o exemplo de gestão em Bonito, em Mato Grosso do Sul, onde existe um grupo responsável pela orientação da demanda [1], poderia ser seguido por outros destinos turísticos.  “Esse tipo de iniciativa tem aumentado”, acredita.

    [1] Em Bonito existe um sistema de voucher único e um limite diário de utilização de cada um dos destinos oferecidos.  Isso evita uma sobrecarga em determinado rio, por exemplo, enquanto outras atrações permanecem sem turista.

A gestão do patrimônio turístico é obrigatória, segundo ela, porque o “turismo entrou na lista de consumo do brasileiro”, e a pressão sobre as áreas de visitação só tende a aumentar.  Dados do Conselho Mundial de Turismo mostram que, no Brasil, a contribuição do turismo para o PIB será de 5%, com receitas que devem crescer quase 12% este ano, boa parte impulsionada pelo chamado turismo de massa.

A ascendente classe C também começa a exigir um turismo mais comprometido com boas práticas.  “Ninguém gosta de visitar um lugar com lixo exposto, prostituição e alcoolismo”, afirma.

Para Sáskia, ter uma indústria do turismo com um olhar além do econômico depende fundamentalmente de incluir mais gente na conversa.  “Parece uma tarefa quase impossível, mas existem bons exemplos, como Paraty (RJ), um tradicional roteiro praia-e-mar que inseriu a cultura como um diferencial, num movimento que beneficia toda a cidade.”

Bernadete Passos, da ONG Casa Azul, uma das responsáveis pela administração do turismo local e organizadora da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), diz que o segredo é a inclusão da comunidade na gestão.  “A cidade só é boa para o turista se for boa para a comunidade”, afirma, citando o consultor Josep Chias – autor do Plano de Desenvolvimento do Turismo Cultural de Paraty e do plano de marketing que transformou a cidade de Barcelona para as Olimpíadas de 1992 (mais sobre Barcelona em reportagem desta edição).  “Estamos numa trilha, carpindo todos os dias.  Sabemos pelo menos quais são nossos gargalos e o que podemos fazer”, diz.

Julio Bin partilha da mesma opinião.  “É preciso trabalhar com as pessoas.” E vai além.  Para ele, é necessário também ter cada vez mais o turista como parte do debate.  Pois, no final das contas, é a sua atitude que vai determinar a qualidade de um determinado projeto.  “Quanto mais responsável for o turista, mais sustentável será o turismo”, acredita.

..:: O papel das operadoras

Na opinião de Bin, a orientação ao turista deve chegar por meio das operadoras.  “Alguém que vende um pacote tem de colocar um mínimo de critérios para o turista, como, por exemplo, levar o lixo de volta.” Ele cita o caso de Fernando de Noronha, onde muitos turistas chegam de navio trazendo sua própria alimentação, não consomem no arquipélago e ainda deixam o lixo por conta dos moradores.  Um dos resultados dessa atitude pode ser visto logo ao chegar à ilha: o lixão que fica entre o aeroporto e a Praia da Cacimba do Padre, cujo indisfarçável cheiro compromete a qualidade da experiência turística.  Oficialmente, porém, o lugar é uma usina de compostagem.

Mesmo diante de problemas como o de Fernando de Noronha, Jeanine Pires acredita no potencial do Brasil como um grande destino para o turismo que valorize o patrimônio natural e sociocultural.  Para ela, o Brasil se destaca entre os países emergentes, porque é visto como um exemplo em uso de energia renovável e que coleciona centenas de exemplos na área pública e privada em práticas mais sustentáveis.

Entre as grandes obras ela cita as regras para concessão de investimentos para a construção de hotéis para a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos, em que quanto maior o compromisso do empresário com critérios de construção e operação menos agressivos mais incentivos recebe e menos imposto paga.  O que para Sáskia Freire, do Ministério do Turismo, resume-se no que o governo vem chamando de Copa Verde, ou Copa Sustentável, um conjunto de ações capazes de garantir a realização do evento sem comprometimento do futuro.  “É a grande oportunidade de inserir a sustentabilidade na cadeia do turismo”, acredita ela.

O otimismo de Sáskia e Jeanine, no entanto, não encontra eco nas palavras do ministro do Turismo, Pedro Novais, que, aos 80 anos, parece desanimado com os desafios que tem pela frente.  Nas poucas vezes em que se manifestou publicamente depois que assumiu o cargo, Novais disse que não vai ter influência nas decisões centrais sobre a Copa e as Olimpíadas, e que a única incumbência de seu ministério será capacitar 306 mil prestadores de serviço.  Ao falar na Comissão de Desenvolvimento Regional e Turismo do Senado, em 27 de abril, o ministro lamentou o corte de 85% das verbas do ministério para este ano.  O orçamento caiu de R$ 3,7 bilhões para R$ 570 milhões.

Mas a falta de verbas não é o único e talvez nem o principal problema do Ministério do Turismo e de quem se dedica a essa atividade no Brasil.  A questão maior é saber se o Brasil está disposto a encarar a atividade turística como parte realmente importante de sua economia e não apenas como um gerador de riquezas de segunda classe.

O que está acontecendo atualmente em Ilhéus (BA) [2] mostra como a visão econômica tradicional exerce seu peso e sinaliza que o turismo muitas vezes perde o cabo de guerra quando em disputa com outras atividades.  Todas obras de grandes corporações financiadas pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do governo federal.

    [2] Em Ilhéus, diversas organizações ambientalistas lutam contra a implantação do Terminal Portuário da Bamin, do Porto Sul e do traçado final da Ferrovia de Integração Oeste- Leste, previstos para ser construídos na Área de Proteção Ambiental da Lagoa Encantada.

Em outro aspecto contraditório dessa história, as corporações são as principais responsáveis pela introdução de critérios socioambientais nos empreendimentos turísticos.  Grandes empresas exigem compromisso de seus fornecedores para não ter seus relatórios anuais maculados por ações potencialmente danosas ao meio ambiente ou que, de alguma maneira, contribuam para a desvalorização da cultura local.  Isso leva a uma busca por novos padrões tanto na construção quanto na operação de empreendimentos turísticos.  (quadro sobre certificação à pág.  24)

Percebendo essa oportunidade, a certificadora Green Globe abriu uma representação no Brasil.  “O mercado está exigindo mais sustentabilidade e a sociedade também”, afirma Dérik Lobo, gestor de certificações da empresa no País.  Também ele enxerga a Copa do Mundo e as Olimpíadas como os grandes agentes transformadores.

“Já está havendo essa preocupação.  O próprio material de divulgação da Fifa anuncia uma Copa do Mundo sustentável”.  A Green Globe, porém, tem como seus grandes clientes os hotéis, resorts, e mercado de alto luxo – criticados pelo consultor Julio Bin e o professor Bruno Malhães, por geralmente desprezarem a cultural local.

Na opinião deles, o Brasil deveria aproveitar a oportunidade para se mostrar como realmente é.  Com sua cultura, belezas naturais e diversidade, aproximando o turista estrangeiro que virá para a Copa e as Olimpíadas da vida do País.

“Acho isso possível.  O Brasil tem um modo de vida muito diferente de outros países e tenho certeza de que, se as pessoas puderem conhecer e ter uma experiência mais ampla, vão curtir”, acredita Malhães.  “O Brasil é a bola da vez em vários aspectos”, complementa Bin, “e essa é a hora de o turismo deixar de ser um setor periférico da economia”.

Fonte..:: Página 22

(turismo, recicle suas idéias)
 


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