Transformar o antigo porto, caótico e alagadiço, em um terminal marítimo com os padrões técnicos do início do século 20, não foi um desafio pequeno. As negociações arrastaram-se durante muitos anos. A concessão para a construção foi dada pelo Império Brasileiro e, depois, mantido pela recém-estabelecida República, algo único. Era imperioso ter um porto que pudesse avançar as exportações de café de São Paulo, permitindo a utilização plena da capacidade da ferrovia, a São Paulo Railway, que chegara ao porto em 1867.
Havia um descompasso entre o que a ferrovia conseguia movimentar e os velhos trapiches, pranchas de madeira sobre troncos, que serviam para que os carregadores chegassem ao navio com sua carga no lombo. A eficiência do planalto estava esbarrando num sistema anacrônico em Santos.
O problema não se resumia a obter os recursos para o investimento, o maior de sua época em um único projeto privado. Mais difícil era conseguir trabalhadores dispostos a enfrentar, mesmo com bom salário, as doenças tropicais que infestavam a cidade. Impaludismo, tifo, malária, febre amarela e até a febre bubônica, mais conhecida como “peste negra”. Foi preciso trazer gente de outras regiões do país, mas muitos abandonavam o trabalho rapidamente ou adoeciam. Santos era uma cidade colonial com más perspectivas.
Logo que os primeiros metros de cais de concreto iniciaram a operação, foi fácil perceber que uma grande mudança estava a caminho. Primeiro porque, como registrou o jornal Times, de Londres, 12 mil toneladas de carga, que demoravam mais de um mês para ser embarcadas, passaram a ser colocadas nos navios em dez dias, o que, para a época, era semelhante ao que se tinha mundo afora. Segundo porque estabelecia-se, à medida que o porto fosse avançando, uma espécie de cinturão sanitário para a cidade, completado depois pelos canais de Saturnino de Brito, que sanearam Santos.
Assim, em 1912, cem anos atrás, a cidade já desfrutava de novos ares e de um progresso galopante, que foi mudando com rapidez a paisagem urbana. Agora frequentada por negociantes, com a população crescendo, novas construções substituíam aquelas coloniais ou que lembravam a condição monárquica anterior.
As duas primeiras décadas do século 20 foram as de maior crescimento da história, colocando Santos entre as cidades brasileiras de importância.
O estranhamento entre homens e máquinas persistiu ao longo dos anos. O incômodo que o portuário, representado na estátua, parece sentir em relação aos modernos guindastes ao fundo, foi uma constante na história do porto. A introdução dos primeiros descarregadores mecânicos de carvão, em meados dos anos 1930, produziu uma verdadeira rebelião no cais.
A CDS chegou a ter 14 mil funcionários no início dos anos 70, hoje a Codesp, sua sucessora, tem 1.500. Mas os terminais retroportuários, que não existiam, empregam cerca de 8 mil trabalhadores.
Muita coisa mudou nesses 120 anos e a marca principal foi a troca de homens por máquinas.
O porto agora é uma terra de gigantes, onde pesos são medidos em milhões de toneladas. Quase metade da população economicamente ativa trabalha direta ou indiretamente ligada ao movimento dos navios e das cargas. O trabalho braçal vai se tornando a exceção à regra.
Especialmente a consolidação dos contêineres, na década de 80, produziu mudanças poderosas. Não apenas no porto, mas na cidade, que tem de conviver com as onipresentes caixas metáticas, nas ruas, em pátios de retaguarda, bem próximos de casa na maioria dos casos. A automatização cresce e com ela o tamanho, alcance e capacidade das máquinas.
Guindastes, transtêineres, portêineres, dalas, sugadores, empilhadeiras inteligentes... Novas palavras vão entrando para o cotidiano. E Santos ainda está atrasado em relação a outros portos no quesito emprego de tecnologia. Do mesmo modo, os navios cresceram, as velocidades aumentaram e as tripulações diminuíram muito.
A paisagem à nossa volta mudou com o porto. Pode-se considerar mesmo que, dos 466 anos de idade de Santos, foram nos últimos 120, a contar da inauguração do porto moderno, que a cidade ganhou a fisionomia que tem hoje. Visionários ou apenas comerciantes espertos, os antepassados que imaginaram aqui o futuro grande porto brasileiro mereceram o crédito eterno.
O gigantismo das atividades atuais escondem as imensas dificuldades e desafios que tiveram de ser vencidos ao longo do tempo. A longa convivência do porto com a cidade embaça os persistentes problemas de relacionamento dessa intimidade forçada.
Os custos dessa travessia foram e são pagos por todos os cidadãos, de uma forma ou outra. Nunca será exagero dizer que os santistas construíram o porto que leva o nome da sua casa.
E são, também, os beneficiários históricos dessa construção — o precoce acesso à eletricidade e à telegrafia, ou o planejamento urbano, por exemplo, foram ganhos de qualidade de vida importantes no passado.
Agora, o crescimento da atividade portuária e a aliança com a indústria do petróleo propiciam um novo período de mudança. A expansão urbana é só um dos sinais. Serão mudanças de longo fôlego, que marcarão a história da cidade no futuro.
Fonte..:: Jornal da Orla
(fatos_históricos, transporte, fotos_antigas)
Havia um descompasso entre o que a ferrovia conseguia movimentar e os velhos trapiches, pranchas de madeira sobre troncos, que serviam para que os carregadores chegassem ao navio com sua carga no lombo. A eficiência do planalto estava esbarrando num sistema anacrônico em Santos.

Logo que os primeiros metros de cais de concreto iniciaram a operação, foi fácil perceber que uma grande mudança estava a caminho. Primeiro porque, como registrou o jornal Times, de Londres, 12 mil toneladas de carga, que demoravam mais de um mês para ser embarcadas, passaram a ser colocadas nos navios em dez dias, o que, para a época, era semelhante ao que se tinha mundo afora. Segundo porque estabelecia-se, à medida que o porto fosse avançando, uma espécie de cinturão sanitário para a cidade, completado depois pelos canais de Saturnino de Brito, que sanearam Santos.
Assim, em 1912, cem anos atrás, a cidade já desfrutava de novos ares e de um progresso galopante, que foi mudando com rapidez a paisagem urbana. Agora frequentada por negociantes, com a população crescendo, novas construções substituíam aquelas coloniais ou que lembravam a condição monárquica anterior.
As duas primeiras décadas do século 20 foram as de maior crescimento da história, colocando Santos entre as cidades brasileiras de importância.
O estranhamento entre homens e máquinas persistiu ao longo dos anos. O incômodo que o portuário, representado na estátua, parece sentir em relação aos modernos guindastes ao fundo, foi uma constante na história do porto. A introdução dos primeiros descarregadores mecânicos de carvão, em meados dos anos 1930, produziu uma verdadeira rebelião no cais.
A CDS chegou a ter 14 mil funcionários no início dos anos 70, hoje a Codesp, sua sucessora, tem 1.500. Mas os terminais retroportuários, que não existiam, empregam cerca de 8 mil trabalhadores.
Muita coisa mudou nesses 120 anos e a marca principal foi a troca de homens por máquinas.
O porto agora é uma terra de gigantes, onde pesos são medidos em milhões de toneladas. Quase metade da população economicamente ativa trabalha direta ou indiretamente ligada ao movimento dos navios e das cargas. O trabalho braçal vai se tornando a exceção à regra.
Especialmente a consolidação dos contêineres, na década de 80, produziu mudanças poderosas. Não apenas no porto, mas na cidade, que tem de conviver com as onipresentes caixas metáticas, nas ruas, em pátios de retaguarda, bem próximos de casa na maioria dos casos. A automatização cresce e com ela o tamanho, alcance e capacidade das máquinas.
Guindastes, transtêineres, portêineres, dalas, sugadores, empilhadeiras inteligentes... Novas palavras vão entrando para o cotidiano. E Santos ainda está atrasado em relação a outros portos no quesito emprego de tecnologia. Do mesmo modo, os navios cresceram, as velocidades aumentaram e as tripulações diminuíram muito.
A paisagem à nossa volta mudou com o porto. Pode-se considerar mesmo que, dos 466 anos de idade de Santos, foram nos últimos 120, a contar da inauguração do porto moderno, que a cidade ganhou a fisionomia que tem hoje. Visionários ou apenas comerciantes espertos, os antepassados que imaginaram aqui o futuro grande porto brasileiro mereceram o crédito eterno.
O gigantismo das atividades atuais escondem as imensas dificuldades e desafios que tiveram de ser vencidos ao longo do tempo. A longa convivência do porto com a cidade embaça os persistentes problemas de relacionamento dessa intimidade forçada.
Os custos dessa travessia foram e são pagos por todos os cidadãos, de uma forma ou outra. Nunca será exagero dizer que os santistas construíram o porto que leva o nome da sua casa.
E são, também, os beneficiários históricos dessa construção — o precoce acesso à eletricidade e à telegrafia, ou o planejamento urbano, por exemplo, foram ganhos de qualidade de vida importantes no passado.
Agora, o crescimento da atividade portuária e a aliança com a indústria do petróleo propiciam um novo período de mudança. A expansão urbana é só um dos sinais. Serão mudanças de longo fôlego, que marcarão a história da cidade no futuro.
Fonte..:: Jornal da Orla
(fatos_históricos, transporte, fotos_antigas)
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