Por..:: * Elcio Rogerio Secomandi – Idt: 02314229-08, Ministério da Defesa. Coronel de Artilharia, rfm, pós-graduado em Ciências Militares (ECEME), Economista, pós-graduado em Administração de Empresas (FGV), Professor Emérito da Unisantos e Ocupa a Cadeira nr. 04 – Visconde de Taunay – Instituto Histórico e Geográfico de Santos.
O aproveitamento do antigo sistema de defesa militar colonial do Porto de Santos como equipamento para o turismo histórico-cultural talvez se encaixe, grosso modo, na “Janela de Overton”, uma tese que aborda assuntos de interesse público com diferentes opções políticas. Segundo Joe Overton, dentro de um amplo espectro de posições possíveis, a opinião pública pode recusar algumas idéias ou teses, por considerá-las “radicais” para um dado momento histórico e aceitá-las, num futuro próximo ou remoto, por deslocamento da “janela” de expectativas.
São muitos os exemplos de proposições que vingam somente após longo período de amadurecimento: a ponte estaiada ou túnel sobre/sob o estuário da baía de Santos, o museu Pelé e o aeroporto regional da Baixada Santista podem estar neste contexto, em fase final de mudança de expectativas. Espera-se que o mesmo ocorra com o Circuito dos Fortes , que tem por finalidade resgatar a parte bandeirante do rico patrimônio histórico-militar, representado por três cortinas duplas de fortificações construídas no período colonial para defesa da “villa” e do nascente Porto de Santos.
As três cortinas do período colonial estavam dispostas como indica a figura acima (A TRIBUNA, 13/01/2007, A3), protegendo os acessos marítimos à “villa” de Santos, tendo: 1) ao Norte, o Forte São João (1551) e o Forte São Felipe (1557), substituído pelo Forte São Luis (1770), realizando a cobertura avançada do acesso marítimo pelo canal de Bertioga; 2) ao Sul, ocupando um esporão rochoso na embocadura do estuário que dá acesso à mesma “villa”, os espanhóis ergueram a Fortaleza de Santo Amaro (1584) e os portugueses, duas “sentinelas avançadas”: o Forte Augusto (1734) e o Fortim do Góes (1765); e, 3) para a defesa aproximada foram construídos o Forte Nossa Senhora do Montserrat (1543) e a Fortaleza Vera Cruz do Itapema (1738).
Para prover o apoio logístico ao combate na linha costeira da Capitania de São Paulo foi erguida a Casa do Trem Bélico (1734), recentemente restaurada em parceria IPHAN/Prefeitura Municipal de Santos _ com patrocínio do BNDES e FinaBank / Lei Rouanet _ com o propósito de transformá-la em museu de logística militar, “suprindo” as fortificações remanescentes com informações sobre o programa de turismo histórico-cultural.
Planta do século XVIII com detalhes da “Villa e Praça de Stos”. Biblioteca Nacional / Imagem cedida pelo IPHAN,
S. Paulo. Destaques: Fortaleza de Itapema, Outeiro de Santa Catarina, Casa do Trem Bélico, Forte Nossa Senhora do Montserrat e Ordem 3ª. do Carmo. Reprodução autorizada.
A razão desta mudança de postura, do combate para o turismo, ocorre mundo afora por obsolescência da arquitetura militar de posição fixa . As fortificações sobreviventes perderam a aptidão paro o combate. Urge, portanto, que a sociedade civil da região metropolitana da Baixada Santista se mobilize com o propósito de resgatar a parte bandeirante deste rico patrimônio arquitetônico-militar que se encontra na origem de uma longa história de povoamento e conquistas territoriais.
A Casa do Trem Bélico estará brevemente funcionando como centro de informações turísticas e ponto inicial de visitação a este formidável sistema de defesa territorial: patrimônio histórico nacional - patrimônio de todos nós. Sua restauração apresenta-se, assim, como justa retribuição da sociedade local ao longo período de proteção marítima colonial da “villa” de Santos. O IPHAN e a Prefeitura de Santos – administradora do monumento histórico – nos brindam com uma verdadeira operação de resgate da memória nacional pelo viés militar e, ao mesmo tempo, como um merecido tributo aos nossos antepassados, que tiveram participação ativa na defesa marítima e terrestre da Capitania de São Paulo.
Fotomontagem: Victor Hugo Mori, por ocasião da entrega do monumento restaurado pelo IPHAN, 29/09/2009. Reprodução autorizada.
No texto intitulado Restauro da Casa do Trem Bélico, Victor Hugo Mori, arquiteto do IPAHN, responsável pelo projeto de restauração, resume a história do monumento com as seguintes palavras:
O Governador José Rodrigues de Oliveira em 1738 relatava ao Rei que o Brigadeiro Silva Pais reconheceu ‘ser de muita utilidade uma casa de pólvora nesta vila, e outra na fortaleza de Santo Amaro para dividir as munições de um acidente’, e por isso tinha ‘delineado duas destas casas’. A primeira no centro da vila de Santos e a segunda no alto do morro da Fortaleza de Santo Amaro, cujas ruínas subsistem.
Prossegue o texto de Victor Hugo Mori:
Em 1908, com a fundação do “Tiro Brasileiro de Santos nº II”, o edifício da Casa do Trem Bélico passou a servir de sede provisória para a nova corporação. O Tiro Onze funcionou até 1945, quando foi extinto. Este edifício serviu ainda como depósito para a Infantaria. Tombada em 1937, a Casa do Trem Bélico foi entregue ao IPHAN em 1965, reparada em 1977 pelo CONDEPHAAT, e agora finalmente restaurada, com recursos da Lei de Incentivos Fiscais do Ministério da Cultura, sob coodenação da Secretaria Municipal de Cultura de Santos.
¹ Projeto do governo do Estado, Resolução SCTDET 04, de 11/02/2004, elaborado pela AGEM, com apoio do SEBRAE/Santos e diversas instituições e empresas de turismo receptivo.
² A última configuração arquitetônica da artilharia de posição, tipo “cortina invisível” (linha Maginot, na França; Forte dos Andradas, em Guarujá), ocorreu em meados do século XX. Hoje, a artilharia lança seus mísseis ou foguetes balísticos de posições fugazes, chamadas “cortinas virtuais”.
..:: Exposição Armamentos Históricos ::..
No próximo dia 20 de outubro de 2011, às 11h00, a Prefeitura Municipal de Santos abrirá a primeira exposição sobre “ARMAMENTOS HISTÓRICOS”, no andar superior do monumento histórico. No salão principal do andar térreo há espaço para exposições, concertos, eventos sociais e outras atividades de interesse comunitário, incluindo um “balcão de informações” sobre o Circuito dos Fortes. Na parte externa está previsto funcionar um “café colonial”, além das instalações de apoio.
Venha conferir! Veja AQUI convite aberto ao público em geral:
Para roteiros do Circuito do Fortes
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