Um estudo do Departamento de Pesca e Aquicultura da Universidade Federal Rural de Pernambuco (DEPAq/UFRPE) levantou que os tubarões-baleia (Rhincodon typus) – maiores peixes vivos do mundo – escolheram o arquipélago de São Pedro e São Paulo (ASPSP), como habitat estratégico antes de seguir viagem em direção à costa oeste do continente americano pelo Oceano Atlântico.
Os resultados obtidos até o momento indicam que os tubarões-baleia frequentam o arquipélago principalmente durante o primeiro semestre do ano (entre fevereiro e junho). “Este é o período em que existe uma maior abundância de peixes voadores, que se concentram nas imediações do arquipélago para se reproduzirem. O peixe voador é a base da cadeia alimentar da maioria dos peixes pelágicos, incluindo o tubarão-baleia”, afirma o pesquisador e responsável técnico pelo projeto Fábio Hazin.
Outra descoberta importante dos estudos realizados e que contribui significativamente para a conservação da espécie foi a ocorrência de fêmeas prenhes nas imediações do Arquipélago de São Pedro e São Paulo. “Pouco se conhece sobre a reprodução e menos ainda sobre os locais de reprodução do tubarão-baleia. O estudo com monitoramento por satélite dos tubarões-baleia possibilita conhecer as rotas migratórias tomadas por essas fêmeas grávidas”, ressalta Hazin.
Projeto Tubarão Baleia
Em 2004, teve início a sistematização da coleta de dados da espécie no arquipélago, localizado no meio do oceano Atlântico entre os hemisférios Norte e Sul, cerca de mil quilômetros do porto mais próximo do Brasil, no Rio Grande do Norte. Foi quando surgiu, oficialmente, o Projeto Tubarão Baleia.
A oportunidade de conhecer melhor essa espécie, que está listado entre os animais ameaçados de extinção, e contribuir para a sua conservação foram os principais motivos que levaram pesquisadores a estudar o tubarão-baleia. “Esse estudo de longo prazo está em andamento e sempre buscando novas metodologias que possibilitem uma melhor compreensão dos aspectos da vida do tubarão-baleia nesse importante ecossistema insular”, explica Hazin.
Embora levantamentos com o tubarão-baleia sejam realizados no mundo inteiro, pouco se sabe sobre sua ecologia (habitats críticos para os diferentes estágios de desenvolvimento, incluindo áreas de acasalamento, reprodução e crescimento dos juvenis) e biologia (taxas de crescimento e estrutura etária, idade de maturação, período de gestação e média anual de filhotes por fêmea).
Entre 2008 e 2010, a Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza apoiou financeiramente um subprojeto do Projeto Tubarão Baleia, que realizou um estudo pioneiro de monitoramento via satélite. Nele, foi possível investigar a utilização do arquipélago pelo tubarão-baleia, assim como o movimento migratório da espécie no oceano Atlântico equatorial.
Para buscar essas informações, o projeto monitorou o deslocamento dos tubarões-baleia por meio da telemetria via satélite, técnica que permite a obtenção de informações acerca de uma população, de forma rápida e detalhada, tendo como objetivos básicos: o conhecimento sobre preferências de habitat, grau de atividade durante dia e noite, e variações sazonais nos padrões de movimento da espécie.
Os três animais que foram monitorados via satélite permanecem por alguns dias nas imediações do ASPSP e seguiram para a direção oeste do arquipélago. “Entretanto, o tempo de monitoramento não foi suficiente para determinar o local exato (próximo ao continente) para onde o tubarão se deslocou e é por isso que os estudam continuam”, explica Hazin.
Além do deslocamento horizontal, os transmissores permitem avaliar o deslocamento vertical (perfil de profundidade e temperatura) realizado por eles. Os animais marcados permaneceram a maior parte do tempo na superfície ou próximo a ela, em águas mais quentes, mergulhando regularmente durante o dia e à noite. A capacidade de mergulhos muito profundos impressionou os pesquisadores. “Durante a pesquisa, verificamos um tubarão-baleia que alcançou a incrível marca de 1.976 metros de profundidade. Foi o mergulho mais profundo registrado para a espécie até então”, explica Hazin. Todas essas informações são essenciais para a construção de estratégias de manejo e conservação adequadas para a espécie no oceano Atlântico.
Para a complementação do estudo, foi criado um banco de dados de imagens para o armazenamento de informações individuais e do comportamento dos tubarões-baleia.
Arquipélago de São Pedro e São Paulo
O Arquipélago de São Pedro e São Paulo está localizado no meio do oceano Atlântico, entre os hemisférios Norte e Sul e entre os continentes africano e sul-americano. Pertence oficialmente ao estado de Pernambuco e está distante 510 milhas náuticas (cerca de 1.010 km) do porto mais próximo, no Rio Grande do Norte.
A localização estratégica e o relevo peculiar fazem do arquipélago um oásis no meio do oceano. “Os oceanos, como um todo, são pobres em biomassa, entretanto, existem locais onde há uma elevada produtividade primária e, consequentemente, biomassa elevada. É o caso do arquipélago”, comenta Hazin.
Nessas localidades, é comum a formação de montes submarinos – conhecidos por apresentarem uma elevada produtividade em razão do seu relevo, em interação com as correntes oceânicas e favorecer a ocorrência do fenômeno oceanográfico chamado de ressurgência (elevação de águas profundas, ricas em nutrientes, para camadas mais superficiais).
A posição remota do arquipélago associada ao fato de se constituir em um dos locais de maior ocorrência do tubarão-baleia no oceano Atlântico, faz com que o local seja uma das áreas mais propícias para a pesquisa da espécie, em todo o mundo.
Tubarão-baleia
Estudos realizados em outros locais do mundo estimaram que o Rhincodon typus, nome científico do tubarão-baleia, pode viver entre 70 e 100 anos. A captura de uma única fêmea prenhe na Ilha de Formosa (Taiwan) confirmou que a espécie é ovovivípara e pode dar à luz até 300 filhotes, que já nascem com comprimento entre 55 e 63 centímetros. O tubarão-baleia se reproduz sexuadamente e atinge a maturidade sexual entre oito e nove metros de comprimento, o equivalente a aproximadamente 30 anos de idade.
“Em outras palavras, é uma espécie que possui estratégia demográfica do tipo k, cuja maturação sexual é tardia, e tem características de vida que reduzem a sua resistência a impactos, tanto ambientais como antrópicos (resultantes da ação humana)”, observa o pesquisador. Diferentemente das espécies de tubarões mais conhecidas, é uma espécie filtradora que se alimenta principalmente de zooplâncton, embora também consuma pequenos peixes e lulas.
Apesar de os tubarões-baleia serem observados geralmente isolados, já houve registros de até três espécimes em um mesmo momento. E eles não costumam passar despercebidos. “Geralmente, quando o tubarão-baleia surge da imensidão azul, é seguido de outras espécies como raias-manta, peixes-rei, peixes-lua, golfinhos-nariz-de-garrafa, entre outras”, pontua Hazin.
Riscos
O tubarão-baleia é classificado como vulnerável à extinção pela União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN, em inglês) e pela Lista Brasileira de Espécies Ameaçadas de Extinção.
Na maioria dos locais do mundo, os tubarões-baleia são avistados durante agregações alimentares. As maiores agregações de tubarões-baleia são no golfo do México (Nordeste do México e sul do Texas) e Mar do Caribe (Honduras, Belize, Cuba). No oceano Atlântico, são conhecidos registros no arquipélago dos Açores, no golfo da Guiné (Angola e Nigéria), Cabo da Boa Esperança (África do Sul), e no Arquipélago de São Pedro e São Paulo.
Em alguns lugares do mundo, como, por exemplo, nas Filipinas, Moçambique e Formosa, o tubarão-baleia é alvo de pescarias com arpão e redes de emalhe. “Felizmente, no oceano Atlântico, não há registro de pescaria direcionada ao tubarão-baleia. Porém, nesse caso, existem registros de capturas incidentais de tubarões-baleia em redes de emalhe, inclusive no Brasil”, esclarece Hazin.
Estudos utilizando transmissores monitorados por satélite, incluindo-se o desenvolvido no ASPSP, indicam que os tubarões-baleia passam a maior parte do tempo na superfície do mar, o que os expõe a perigos. A poluição dos oceanos também é uma grande ameaça ao tubarão-baleia e a todos os organismos que vivem nesse ambiente, assim como desastres ecológicos, como o que ocorreu no Golfo do México em 2010, com toneladas de petróleo sendo lançadas ao mar após um vazamento; tudo isso tem um impacto incomensurável tanto para os tubarões-baleia como para outras espécies marinhas.
Cidadão Cientista
Em busca de novas informações que possibilitem melhor compreensão dos aspectos da vida do tubarão-baleia para a conservação da espécie, está sendo criado o Programa Nacional de Monitoramento de Avistagens (PNMA) do tubarão-baleia. Por meio de um formulário online, qualquer pessoa que queira colaborar com o projeto pode enviar informações que contribuam com o mapeamento da distribuição, abundância e sazonalidade da espécie na costa brasileira.
Fonte..:: Fundação Grupo Boticário
Imagem..:: Biologia Exata
(papo de biologia)
Nenhum comentário:
Postar um comentário
A R9 Turismo agradece sua participação!
obs: Os comentários são moderados.
Mantenha contato! Muita Luz ...