Turismo Consciente na
Costa da Mata Atlântica
(Baixada Santista)
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quarta-feira, 6 de julho de 2011

O Biólogo e a Atividade do Ecoturismo

Por..:: Zysman Neiman*

A tomada de consciência sobre a degradação ambiental detonou, no final do século XX, uma reflexão sobre a lógica econômica e o equilíbrio planetário que condiciona a sobrevivência da humanidade. A indústria de turismo e hotelaria vem sofrendo transformações em sua essência. A mudança de paradigma é global e envolve a transferência do enfoque puramente econômico para outro preocupado com a preservação do meio ambiente natural e social.

Foto de ..:: Renato Marchesini

Dentre os diversos movimentos surgidos desde então, o Ecoturismo despontou como fenômeno social e econômico no Brasil em meados da década de 1980, e tem crescido em todas as regiões do país nas quais há belas paisagens naturais e os aspectos tradicionais da cultura são marcantes.

A definição do Ecoturismo prevê que os indivíduos possam entrar em contato com as áreas naturais garantindo a sua sustentabilidade econômica e ecológica, incluindo-se aí suas populações tradicionais. Todo ecoturista deveria ter comportamento coerente com todos os princípios básicos do Ecoturismo, ou seja, respeitar a natureza, tentando entender como funciona o meio ambiente do local visitado sem destruí-lo; conhecer novas culturas e tradições das comunidades locais, sem distorcê-las. O Ecoturismo é, portanto, uma atividade que funciona como instrumento de aproximação entre o ser humano e o meio ambiente natural, principalmente em Unidades de Conservação, incorporando alguns pressupostos, como o questionamento de valores, a aprendizagem através da experiência e a promoção da busca de reformulações para os aspectos indesejáveis da vida cotidiana.

Como consequência de uma grande diversidade de entendimentos conceituais sobre seu significado, vários termos são utilizados para se referir a mesma atividade, como “Turismo de Natureza”, “Turismo Responsável”, “Turismo Verde”, “Turismo Ecológico”, “Turismo Ambiental”, “Turismo Sustentável” entre outros, sendo que cada um desses apresenta aspectos, se não idênticos, bem próximos uns dos outros.

Dentre todas as definições existentes para o termo ‘Ecoturismo’, três características estão sempre presentes no que constitui o chamado tripé da sustentabilidade dessa atividade:

- Garantia de conservação ambiental;
- Educação Ambiental;
- Benefícios às comunidades receptoras.

O Ecoturismo deve, portanto, garantir que a interação entre o ser humano e a natureza desencadeie, através de uma relação vivencial, a reflexão sobre a exploração dos recursos, compreendendo que os mesmos devem ser utilizados de forma sustentável. A atividade possui mundialmente grande potencial crescimento, além de ser altamente lucrativa. A comprovação de seu crescimento por meio dos dados coletados por organizações da área demonstram que o seu desenvolvimento em vários locais tem sido motivo para que, tanto a iniciativa pública quanto a privada, criem diretrizes para estruturar e planejar melhor o andamento da atividade. É evidente, assim, a contribuição que os biólogos podem dar ao segmento.

Desde o princípio de sua prática no Brasil, foi grande a participação de profissionais da Biologia na elaboração e condução de atividades de Ecoturismo, principalmente em Unidades de Conservação. Dentre os pioneiros nos estudos para aperfeiçoar seus princípios, vários biólogos poderiam ser citados, sendo eles
os grandes responsáveis pela sua vinculação direta com a Educação Ambiental.

A Resolução nº 227, 18/08/2010, que dispõe sobre a regulamentação das atividades profissionais e das áreas de atuação do biólogo prevê, em seu artigo nº 4 que o Ecoturismo é uma das suas atribuições. Mais do que isso, a participação desses profissionais se consolidou tanto no que se refere ao trabalho no mercado, liderando empresas, ONGs e Órgãos Públicos do setor, quanto na elaboração de estudos acadêmicos, publicação de artigos em periódicos científicos e livros para capacitação de especialistas.

O trabalho dos biólogos, associados a outros profissionais, como geógrafos, turismólogos e cientistas sociais, dentre outros, vem amadurecendo o Ecoturismo como uma alternativa ao Desenvolvimento Sustentável. Atualmente as políticas de meio ambiente, conservação, e Educação Ambiental estão bastante bem definidas e firmadas, sendo a participação da sociedade cada vez mais premente e requisitada, considerando-se sua importância na sustentabilidade e responsabilidade social. Temas como certificação em Ecoturismo tomam conta das pautas de discussão de diversas organizações, criando-se grupos de discussão que buscam definir diretrizes para uma padronização mínima na qualidade dos serviços prestados.

Na universidade, o Ecoturismo, já há alguns anos, é tema de pesquisa e extensão, o que fez aumentar a quantidade de estudos acadêmicos dos mais diversos tipos. Atentos a esse crescimento, os pesquisadores de todo o país resolveram conjuntamente criar um periódico científico que pudesse se consolidar como o  importante meio de divulgação do conhecimento gerado pela academia, mercado e sociedade em geral. Nasceu, assim, em 2008, a Revista Brasileira de Ecoturismo (www.sbecotur.org.br/rbecotur), hoje já reconhecida pelos mais importantes indicadores de qualidade, e ganhando cada vez mais qualidade nas suas edições. Uma comissão de pesquisadores, dos mais prestigiados da área, tanto nacionais como internacionais, compõe seu quadro de avaliadores e lhe confere rigor acadêmico como ainda não existia no segmento. Boa parte dos artigos lá publicados é de autoria de biólogos, quer liderando ou fazendo parte de equipes multidisciplinares de pesquisadores.

O Congresso Nacional de Ecoturismo, já em sua VIIIº edição (ocorrerá entre 08 a 11 de novembro de 2011, em São Paulo – SP,  se consolidou como um dos mais relevantes eventos do setor.

Atualmente, tanto a Revista quanto o Congresso estão sob responsabilidade da Sociedade Brasileira de Ecoturismo, instituição criada em 2009 e que reúne profissionais, pesquisadores, entidades e estudantes que
promovem as boas práticas e se interessam em aperfeiçoar cada vez mais seus princípios.

Seu objetivo social é promover estudos e pesquisas em Ecoturismo visando o desenvolvimento sustentável, a conservação do meio ambiente e a adequada utilização do patrimônio histórico, cultural e natural dos destinos turísticos do País. Para isso, promove estudos e pesquisas, estimula a melhoria do ensino do Ecoturismo em todos os níveis; incentiva e promove intercâmbio entre os profissionais da área no Brasil e de
todo o mundo; estimula a divulgação de conhecimentos através da publicação de livros, revistas, monografias, boletins, fitas de vídeo, CD-ROM e outros; estimula o melhor aproveitamento e distribuição de pessoal científico no campo e o planejamento e formação de especialistas necessários ao desenvolvimento
do Ecoturismo no país; mantém um centro de documentação e um banco de dados; atua perante o Poder Público e a sociedade civil no que tange ao desenvolvimento responsável do Ecoturismo; dentre outras atribuições.

Não é a toa que, no seu quadro atual de 07 Diretores, figurem 03 biólogos, dentre eles o Presidente da Sociedade.

Aos biólogos que queiram se dedicar ao Ecoturismo, vale lembrar que sua atuação deverá ser no sentido de promover o desenvolvimento do turismo sustentável, considerando a gestão de todos os ambientes, recursos e comunidades receptoras, de modo a atender às necessidades econômicas, sociais, vivenciais e estéticas, enquanto quea integridade cultural, os processos ecológicos essenciais e a diversidade biológica dos meios humanos e ambientais sejam mantidos através dos tempos. Trata-se, portanto, de uma tarefa que exige visão multidisciplinar.

Só assim, através de muita pesquisa, planejamento e colaboração entre todos os segmentos da sociedade, o Ecoturismo poderá ser implantado no nosso país, e o tornará um dos mais promissores destinos para esse tipo de prática, de acordo com os seus pressupostos, tornando-se importante aliado na geração de renda e no desenvolvimento sustentável das comunidades e biomas brasileiros.

Monitor ambiental local demonstra aspectos da cultura local (Casa de Farinha) a Ecoturistas, no Parque Estadual da Serra do Mar, Núcleo Picinguaba (SP).

*Zysman Neiman - CRBio: 35885/01-D,
Graduado em Ciências Biológicas, Mestradoe Doutorado em Psicologia, todos pela Universidade de São Paulo. Coordenador do Laboratório de Ecoturismo, Percepção e Educação Ambiental (LEPEA) da Universidade de São Carlos (UFSCar). Presidente da Sociedade Brasileira de Ecoturismo (SBEcotur). E-mail: zysman@ufscar.br


(ecoturismo)


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