Por..:: Marcus Vinicius Arantes Scucel
Uma Unidade de Conservação (UC) seguindo seu Plano de Manejo e a legislação vigente, busca o equilíbrio entre a preservação, pesquisa e uso público o que quase sempre é motivo de acirrados debates e em alguns casos até mesmo conflitos entre técnicos ambientalistas e população local.
Foto Crédito..:: Renato Marchesini
Um dos assuntos mais contraditórios é a questão da Capacidade de Carga. O tema merece maior atenção e aprofundamento quando se trata de analisar quais as metologias adequadas que estabelecerão os parâmetros para cada localidade levando-se em conta suas peculiaridades fundiárias, antropológicas, políticas, econômicas e geográficas além de tantas outras envolvidas.
Em visita técnica ao Núcleo Itinguçu da Estação Ecológica Juréia-Itatins (EEJI) no município de Peruíbe/SP realizada em 04 de julho de 2010, um grupo de estudantes de Gestão em Turismo do IFET Cubatão/SP, realizava estudo de campo na UC a fim de aprofundar seus conhecimentos sobre ecossistemas e potencialidade turística, quando se deparou com uma informação estarrecedora.
Ao questionar sobre a frequência de turistas na UC, o grupo se surpreendeu ao descobrir que o núcleo recebe de 2mil a 4mil turistas nos dias de pico da alta temporada de verão. Afinal de contas, a beleza cênica proporcionada pela Cachoeira do Paraíso e as piscinas naturais que se formam ao longo do rio Perequê, estimulam a visitação.
Porém, todo visitante, antes de ter acesso ao interior da UC e desfrutar as belezas da mata atlântica, deve obrigatoriamente passar por uma breve sensibilização para as questões de preservação e conceitos de ecologia. Sensibilização essa que é realizada no núcleo de visitantes da sede com a apresentação realizada por guarda-parques ou monitores ambientais da Fundação Florestal do Estado de São Paulo.
Convém ressaltar que a única trilha aberta à visitação pública e que dá acesso à
cachoeira, tem um percurso com duração máxima de 5 minutos e é totalmemte manejada, ou seja, durante todo o trajeto há escadas em subidas e descidas e uma cerca de madeira ladeando e evitando o alargamento da trilha. É nítida a preocupação com a manutenção dos materiais usados e sua conservação. Ao chegar na cachoeira o turista encontra um monitor ambiental que garante a segurança dos visitantes e a conservação do ambiente.
Foto Crédito..:: Renato Marchesini
É estranho imaginar uma UC - especialmente em se tratando de uma estação ecológica que possui grau máximo de restrições - recebendo milhares de turistas em um único dia. Como pode ocorrer esse fluxo e garantir a conservação? Como fiscalizar a todos e garantir que nao se embrenhem pela mata desrespeitando a vida preservada e colocando sua prória vida em risco?
Em verdade, um dos primeiros pontos que deve ser considerado é que a capacidade de carga de cada localidade bem como os métodos e critérios que definem os parâmetros e limites, sempre devem equilibrar a balança dos custos e benefícios sociais e ambientais.
Devemos lembrar que muito antes de existirem os parques, já havia um grande número de comunidades nativas vivendo de forma sustentável em boa parte das áreas protegidas. Além disso, o uso público para o lazer e recreação sempre fez parte da vida das pessoas que vivem no entorno da UC.
Ao liberar uma pequena porção da área que já foi exaustivamente utilizada e ao mesmo tempo restringindo totalmente o acesso às demais áreas, o gestor evita a ''invasão'' de turistas que poderia ocorrer caso fosse fechado 100% o acesso à área preservada. Melhor é sacrificar uma pequena parte do que ''fechar'' totalmente a área sem ter como controlar todos os antigos e novos acessos que as pessoas usariam.
Em segunda análise, podemos observar que os limites de carga de uma área natural, são muito mais restritivos se não há qualquer tipo de estrutura de conservação
como pontes, cercas e passarelas.Assim podemos fazer uma comparação simples ao observar 3 milhões de pessoas na Avenida Paulista que se nao jogam lixo nas vias públicas, o simples fato de estarem ali não causa impacto ao meio. Esse é um exemplo extremo apenas para ilustração, mas se considerarmos uma trilha devidamente preparada, o alto número de visitantes pouco impactará o local que já foi estruturado para isso.
Cabe aqui ressaltar que não se trata de uma defesa para o turismo de massa em UCs, mas sim que é necessário o estudo apurado principalmente quando as áreas de conservação estão em localidades turísticas com grande demanda mesmo que sazonal.
Foto Crédito..:: Renato Marchesini
Mais do que um estudo apurado é necessário que seja realizado por uma equipe multidisciplinar de forma que seja proporcionado o equilíbrio entre todos os interesses envolvidos sejam eles sociais, econômicos ou ambientais, garantindo a conservação das áreas naturais bem como das populações locais e suas culturas através do turismo/desenvolvimento sustentável... de fato!
Fonte..:: Gesttur
..::Para saber mais::..
- Mosaico Juréia-Itatins (Lei nº 12.406 de 12 de dezembro de 2006 (em vigor até 10 de junho de 2009) http://www.fflorestal.sp.gov.br/media/uploads/consulta/estudo/Anexo1_Boletim_Mosaico_Jureia.pdf
-
Populações Humanas na Estação Ecológica Juréia-Itatins – Eliana Rita Oliveira – Nupaub-USP, 2004. http://www.usp.br/nupaub/jureiaitatins.pdf
- Situação Fundiária da Estação Ecológica Juréia Itatins
http://www.peruibe.sp.gov.br/planodiretor/downloads/PDPeruibe13_IF.pdf
(ecoturismo)
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